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Carlos Paredes
(N. 16 fevereiro, 1925 - M. 23 julho, 2004)Carlos Paredes nasce em Coimbra a 16 de Fevereiro de 1925. Filho de Artur Paredes, neto de Gonçalo Paredes e sobrinho-neto de Manuel Rodrigues Paredes, é herdeiro de uma vasta tradição familiar onde a guitarra esteve sempre presente.
Com o pai, Carlos Paredes aprendeu as primeiras posições de mão na guitarra e, por brincadeira, começou com cerca de 9 anos a acompanhar o pai. Mais tarde, já com 14 anos, apresenta-se em parceria com Artur Paredes num programa semanal, da autoria deste, na Emissora nacional.
Por volta de 1934 a família instala-se em Lisboa. Carlos Paredes aprende a ler e conclui a instrução primária no Jardim-escola João de Deus e, depois, frequenta o Liceu Passos Manuel. Será nesta altura que irá adquirir a sua formação musical, tendo aulas de violino e piano. Faz o exame de admissão ao Curso industrial do Instituto Superior Técnico, em 1943, mas frequenta apenas o primeiro ano.
No ano de 1949 Carlos Paredes torna-se funcionário administrativo do Estado, trabalhando durante muitos anos no arquivo de radiografias do Hospital de S. José, até se reformar a 1 de Novembro de 1986.
Carlos Paredes casou por duas vezes, a primeira com Ana Maria Napoleão Franco Paredes, em 1960, e a segunda com Cecília de Melo.
Carlos Paredes nunca rejeitou a influência que recebeu, tanto da música popular portuguesa como do próprio fado de Coimbra. A renovação e reinvenção da sonoridade da guitarra portuguesa que fez, resultou duma geração de 60 revitalizada por novos conceitos sócio-culturais, onde floresciam as vozes de José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Luiz Goes e António Bernardino, bem como a poesia de Manuel Alegre, a guitarra de António Portugal e as violas de Rui Pato e Luis Filipe, em suma, toda uma geração coimbrã que, preservando a riqueza etnomusical que a antecedia, revolucionou a guitarra por dentro e cantou valores que a projectariam inevitavelmente no futuro.
Desse gosto pela aventura nasceu uma vasta obra musical que, passando pelo Teatro, pelo Bailado e pelo Cinema, faz de Carlos Paredes um dos mais completos compositores / instrumentistas que a guitarra portuguesa conheceu, apesar de nunca ter optado pela profissionalização.
A sua primeira aventura discográfica em nome próprio, o EP "Carlos Paredes", data de 1962. Dois anos antes, em 1960, tinha composto a música da banda sonora da curta-metragem "Rendas de Metais Preciosos" realizada por Cândido Costa Pinto. Na execução desta peça foi acompanhado por Fernando Alvim, começando uma parceria que se prolongaria por mais de 20 anos.
A sua ligação ao cinema não se ficou por aqui e para além da música feita para "Os Verdes Anos" (1962), que se tornou um dos seus ex-libris, e "Mudar de Vida" (1966), do cineasta Paulo Rocha, ou de "Fado Corrido" (1964), realizado por Jorge Brum do Canto, regista-se a participação do artista ou da sua música nas curtas-metragens: "P.X.O" (1962), de Pierre Kast e Jacques Valcroze; "Crónica do Esforço Perdido" (1966), de António Macedo; "À Cidade" (1968) e "The Columbus Route (1969), de José Fonseca e Costa; "Tráfego e Estiva" (1968), de Manuel Guimarães; "Hello Jim!" (1970), de Augusto Cabrita; e "As Pinturas do Meu Irmão Júlio" (1965), de Manoel de Oliveira, entre outras.
No teatro destacam-se as colaborações com José Cardoso Pires, na histórica encenação de Fernando Gusmão para o Teatro Moderno de Lisboa, em 1964; com Carlos Avilez nas "Bodas de Sangue", espectáculo do CITAC; e em "A Casa de Bernarda Alba" de Garcia Lorca, pelo Teatro Experimental de Cascais.
O guitarrista continua a compor músicas para teatro e cinema, até que no ano de 1971, sai aquela que é unanimemente considerada a sua obra-prima, o disco "Movimento Perpétuo", que inclui temas magníficos como "António Marinheiro", "Mudar de Vida" e o próprio tema que lhe dá o título.
Entre 1971-1977, com o Grupo de Teatro de Campolide, fez a música para "O Avançado Centro Morreu ao Amanhecer" de Agustin Cuzzani, e escolheu a banda sonora dos espectáculos seguintes do grupo.
A nível de Bailado, Vasco Wallenkamp criou em 1982 "Danças para Uma Guitarra", com música de Paredes.
Após o 25 de Abril de 1974, Carlos Paredes faz parte da banda sonora da Revolução: as primeiras eleições livres (para a Assembleia Constituinte) são anunciadas diariamente na TV com música de Paredes. No ano das eleições (1975), o guitarrista edita um LP em que toca guitarra, sendo acompanhado por Manuel Alegre (que declama poemas de sua autoria). Este disco intitula-se "É preciso um País".
Carlos Paredes começa a frequentar alguns dos grandes palcos por essa europa fora e, sem o consentimento da sua editora é lançado na então RDA um LP intitulado"O Oiro e o Trigo" (de 1980), que reúne material inédito gravado em 73 e 75. Nesse país já tinha sido lançada uma compilação do mestre intitulada "Meister der Portugiesischen Guitarre", em 1977.
A nova editora de Paredes, após a ruptura com a Valentim de Carvalho, lança em 1983, um álbum gravado ao vivo em Frankfurt, que inclui temas inéditos.
No ano seguinte, em dueto com António Vitorino de Almeida, que toca piano, é editado o disco "Invenções Livres" e, em 1988 a sua nova editora (Polygram) inunda os escaparates das discotecas com o LP "Espelho de Sons", o qual entra directamente para o 3º lugar do Top Nacional de vendas de discos.
O seu próximo disco é um dueto com o contrabaixista de Jazz Charlie Haden ("Dialogues"), a que se seguirá uma participação especial no disco ao vivo dos Madredeus, gravado em Lisboa no Coliseu dos Recreios.
O seu último disco, "Na Corrente" é lançado em 1996, quando o genial guitarrista já está impedido pela doença de participar em espectáculos e de gravar discos. Esta gravação reúne diverso material inédito.
O guitarrista cresceu num ambiente de discreta resistência e contestação política ao regime salazarista pelo que, em 1958, aderiu ao então clandestino Partido Comunista Português. Na manhã de 26 de Setembro desse mesmo ano foi preso pela PIDE no seu local de trabalho, permaneceu detido por 18 meses e depois de sair em liberdade foi suspenso do Hospital de S. José, trabalhando durante alguns anos como delegado de propaganda médica.
Curiosamente, apesar da perseguição política, Carlos Paredes foi por diversas vezes convidado a integrar delegações estatais, actuando, por exemplo, no Festival de Varadero em Cuba, em 1967, na Exposição Mundial de Osaka, em 1970, ou na Opera de Sidney na Austrália.
A seguir à revolução de 25 de Abril de 1974, Carlos Paredes participou em inúmeras iniciativas realizadas pelo Partido Comunista Português, particularmente em espectáculos promovidos não só em Portugal como em vários países da Europa de Leste.
A última actuação em público de Carlos Paredes foi em Outubro de 1993, na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa, acompanhado por Luisa Amaro.
Em Dezembro de 1993 foi-lhe diagnosticado um grave problema de saúde que o impossibilitava de tocar guitarra e que o manteve afastado da vida activa até à data do seu falecimento, em 2004.
A sua obra fez escola e assume, na cultura musical portuguesa, um valor incalculável. Entre Junho e Setembro de 2000, o Museu do fado deu a conhecer o percurso biográfico e profissional de Carlos Paredes, através de uma exposição temporária de título "Estar com Paredes".
Fonte:
Texto elaborado com base no catálogo da exposição "Estar com Paredes", CML/EBAHL, 2000.
Carlos Paredes, s/d.
António Rocha e Carlos Paredes, s/d.
Fernando Alvim e Carlos Paredes, s/d.
Fernando Alvim e Carlos Paredes, s/d.
Carlos Paredes, s/d.
Fernando Alvim e Carlos Paredes, s/d.
Fernando Alvim e Carlos Paredes, s/d.
Fernando Alvim e Carlos Paredes, s/d.
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Verdes Anos Carlos Paredes/ Fernando Alvim (Carlos Paredes)