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Basilissa dos Santos
(N. 13 julho, 1917 - M. 11 dezembro, 2008)Basilissa dos Santos nasceu a 13 de Julho de 1917 no Beco do Garcês, freguesia de S. Miguel, em Alfama e foi baptizada na Igreja de Santo Estêvão.
Cresceu no bairro de Alfama, um dos mais típicos de Lisboa, onde o fado se escutava um pouco por todo o lado. Na década de 1930, Basilissa dos Santos integrou por duas vezes o conjunto de marchantes do seu bairro, nos anos de 1934 e 1936.
Ainda no ano de 1936 Basilissa casou no Palácio de Santo Estêvão e desta união nasceram três filhos, duas raparigas e um rapaz.
Por influência do seu marido, confiante nas capacidades vocais de Basilissa para a interpretação do fado, decidiu fazer uma inscrição e participar no Concurso da Primavera, organizado pelo jornal “Canção do Sul”, em 1938.
Neste concurso é disputado o título de “Rainha do Fado”, através da realização de várias eliminatórias, uma em cada bairro popular de Lisboa, e, posteriormente, uma exibição onde o júri escolhe a “Rainha do Fado” de entre as representantes vencedoras de cada bairro. Na eliminatória realizada a 8 de Maio de 1938, na Sociedade Boa União, Basilissa dos Santos teve a nota máxima de 20 valores, sendo a melhor classificada pelo bairro de Alfama (cf. “Canção do Sul”, 16 de Maio de 1938, pp. 4/5).
Apesar de ter recebido o título pelo seu bairro, Basilissa dos Santos não participou na final entre bairros, na qual se sagrou vencedora a fadista Márcia Condessa, em representação do bairro da Bica.
A 25 de Fevereiro de 1946 a fadista tirou a sua carteira profissional como “cantadeira de fados”. Fez a sua estreia no Café Continental, onde foi apadrinhada pelos fadistas da velha guarda, Filipe Pinto e Maria do Carmo. Relembrando essa época, a fadista lembrava que cantou, também, no Luso, com Lucília do Carmo e Fernanda Baptista. Referia mesmo que, no início da sua carreira, foi a grande fadista Lucília do Carmo que lhe emprestou duas letras para interpretar, depois naturalmente adquiriu o seu próprio repertório.
A fadista actuou também na Parreirinha de Alfama, com Argentina dos Santos, e integrou o elenco que inaugurou a casa de fados do Monumental, ao lado de grandes figuras do universo fadista, como Frutuoso França, e actuou, também, no teatro Júlia Mendes, no Parque Mayer, na Voz do Operário e na Boa União.
Basilissa dos Santos partiu para Lourenço Marques com o marido e os filhos, em 1954, cidade onde continuou a interpretar o fado, estreando-se com êxito no restaurante Marialva, numa festa de homenagem a Maria Lopes. Também participou numa homenagem a Moniz Trindade.
Apesar de coordenar a sua carreira fadista com a actividade profissional numa fábrica de calçado de Lourenço Marques, Basilissa dos Santos fez inúmeros espectáculos pela cidade, em espaços como os restaurantes Marialva, Peninsular, Astória, Estalagem, Ribatejano, Adega Madragoa, Toca, Clube dos Lisboetas, cervejaria Bambu e, também, na Rádio Clube de Moçambique. Durante os 9 anos que permaneceu em Lourenço Marques, foi acompanhada à guitarra por Alves Martins, Avelino Magalhães, Tomás de Lima, Adelino Gomes, Ferreira Neto e Tino Duarte. Na viola contou com as colaborações de António Fonseca, João de Sousa, Carlos Lopes, Eduardo Cerqueira, Secundido Martins e Arnaldo Carvalho, entre outros.
A fadista mantém-se a par das carreiras dos maiores nomes da canção nacional e revela-se admiradora de Hermínia Silva, Maria José da Guia, Fernando Farinha, Alfredo Marceneiro, Mário Rocha ou Fernanda Maria.
Viveu em Lourenço Marques até 1963, altura em que regressou com a família a Portugal. Nesse ano realizaram-se várias homenagens e festas de despedida, as quais espelham o grande sucesso de Basilissa dos Santos em Moçambique.
Embora não tenha deixado os fados do seu repertório registados em edições discográficas, Basilissa dos Santos afirmou, em entrevista a um jornal moçambicano, que o fado que mais gostava de cantar era “Quem mais jura mais mente”, mas o que interpretava mais vezes a pedido era “Coragem”.
Em 1960, Basilissa dos Santos foi intitulada de Avó Fadista, aquando do nascimento do seu primeiro neto, filho de Geny Santos, também fadista de grande mérito. Nesta altura e durante o decorrer da homenagem prestada pelos Amigos do Clube dos Lisboetas foi-lhe oferecida uma guitarra de filigrana em ouro e uma placa comemorativa da efeméride.
À data do seu regresso a Portugal, o Goldfields Portuguese Club de Welkom (cidade sul africana onde residiu), fez-lhe uma sentida homenagem e ofereceu-lhe uma salva de prata com dedicatória gravada. Nesta altura também o restaurante Tico-Tico, em Joanesburgo, realizou uma festa de despedida para a fadista, juntando os seus amigos e admiradores.
Basilissa dos Santos regressou a Portugal mas, após o falecimento do marido, viajou com o filho para a África do Sul, onde também cantou, com grande êxito, na cervejaria Severa. Em 1996 este restaurante entregou-lhe um xaile e uma guitarra miniatura em ouro.
Com o passar dos anos instalou-se num lar em Joanesburgo, onde por vezes cantava, concretizando as suas palavras numa entrevista concedida em 1963 a um jornal de Joanesburgo: “Cantarei enquanto tiver forças e houver fado. Nem que seja de bengala. O fado é tudo quanto existe para mim!”.
Basilissa dos Santos faleceu em Joanesburgo, no lar onde residia, a 11 de Dezembro de 2008, com 91 anos.
Fonte:
“Canção do Sul”, 16 de Maio de 1938;
Museu do Fado - Entrevista realizada em 12 de Novembro de 2004;
Dados fornecidos por Luís dos Santos, filho da fadista;
Conjunto de recortes e dedicatórias entregues por Basilissa dos Santos ao Museu do Fado.