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Beatriz da Conceição

(N. 21 agosto, 1939 - M. 26 novembro, 2015)

Beatriz da Conceição Mendes Lage nasceu no Porto a 21 de Agosto de 1939, cidade onde viveu até ao dia que um passeio a Lisboa a fez abraçar a carreira de fadista. À volta do ano de 1960, Beatriz da Conceição visitou a capital com um grupo de amigos e foi à casa de fados Márcia Condessa onde acabou por ser convidada a cantar. Após a sua interpretação a própria Márcia Condessa contratou-a para integrar o elenco. Beatriz da Conceição estabeleceu-se em Lisboa como fadista e, passado um ano, tirou a carteira profissional.

Ao longo da sua carreira passou por muitas das casas de fado mais importantes de LIsboa, como A Viela, a Adega Machado, a Nonó, Os Ferreiras, a Taverna do Embuçado e, actualmente, o Senhor Vinho.

Em 1965 gravou o seu primeiro disco para a etiqueta RCA. Um EP de título “Fui por Alfama”, onde Beatriz da Conceição interpretou, para além do tema título, um poema de Guilherme Pereira da Rosa com música de Francisco Carvalhinho, “Eu sou do fado”, letra de Lopes Victor para música de Francisco Carvalhinho, “Fado do adeus”, poema de Nelson de Barros e música de Frederico Valério, e “Agora choro à vontade”, com música de Eugénio Pepe e letra de Guilherme Pereira da Rosa.

Curioso é o texto da contracapa deste disco, onde a editora apresenta a seguinte descrição: “Jovem, turbulenta e irreverente, Beatriz da Conceição é como que uma rajada de ar fresco no meio fadista nacional. Pertencendo à chamada Nova Vaga do Fado ela interpreta com igual valor tanto o género alegre como o triste e dramático. Duma flexibilidade sem limites é, contudo, nas interpretações dramáticas que melhor podemos apreciar a «garra» e o «sentimento» que ela empresta a cada fado que canta.”

Beatriz da Conceição passou a fazer parte dos grandes valores consagrados do universo fadista pelas características de irreverência, de exaltação de garra e sentimento nos fados que interpretava, que marcaram todo o seu percurso como fadista. “Beatriz canta sempre de cabeça levantada numa atitude afirmativa, forte e quase sanguinária” (…) “Perder um espectáculo de Beatriz da Conceição é desmarcar um encontro com as grandes emoções humanas.” (cf. “Um Porto de Fado”: 55).

Beatriz da Conceição começou a trabalhar em teatro em 1966, destacando-se nos palcos com a interpretação de temas como: “Fado para esta noite” (Francisco Ferrer Trindade – Rogério Manuel Tavares Bracinha – César Augusto Gonçalves de Oliveira), ou “John Português” (João de Vasconcelos – César Augusto Gonçalves de Oliveira), onde a fadista fazia o papel de um marinheiro, neto de emigrante, para uma revista do Teatro ABC, no Parque Mayer.

Como todos os grandes fadistas, obstinou-se em ter um repertório próprio, chegando mesmo, no início da sua carreira a comprar letras de Fado de que gostava. Ao ouvir Beatriz da Conceição podemos contar com letras de grandes poetas, casos de: Domingos Gonçalves Costa, João Dias, João Linhares Barbosa, César d' Oliveira, Ary dos Santos ou Vasco de Lima Couto.

José Carlos Ary dos Santos e Fernando Tordo criaram o fado “Meu Corpo”, que muitos conhecem como o "Fado da Bia", diminutivo familiar da artista. Este fado foi criado de um dia para o outro em virtude de Beatriz da Conceição ir substituir Tonicha na revista “Uma no Cravo, Outra na Ditadura”, e ser necessário ter um original para interpretar.

A grande referência fadista para Beatriz da Conceição era Lucília do Carmo: “ a musa da minha inspiração, e por quem eu morria de ouvir cantar” (cf. Baptista Bastos: 85). Ainda assim, também considerava no grupo de eleição as fadistas Argentina Santos e Fernanda Maria. Para o fado no masculino enumerava, como seus preferidos, Alfredo Marceneiro, Carlos Ramos, Tony de Matos, Max, Manuel de Almeida e Tristão da Silva.

Na década de 1990 Beatriz da Conceição participou nos programas de televisão, criados por Filipe la Féria: a "Grande Noite" (1990) e o "Cabaret" (1994).

Em 1996, Beatriz da Conceição e António Rocha foram convidados a integrar uma experiência única, o projecto “Tears of Lisbon”, dirigido pelo maestro Paul van Nevel e o Huelgas Ensemble, com uma recolha de temas de Fado e de música portuguesa do séc. XVI. Neste âmbito são realizados diversos espectáculos por todo o Benelux e, patrocinado pelo “Festival Van Vlaanderen International”, é gravado um CD ao vivo, no Refectory of the Bijloke Abbey, em Ghent na Bélgica. Neste disco Beatriz da Conceição interpreta os temas: “Voltaste” (Joaquim Pimentel), “Eu preciso de te ver” (Vasco de Lima Couto – Fontes Rocha), “Noite” (Vasco de Lima Couto – Max), “Vesti a minha saudade” (Francisco Viana – António Campos) e “Meu corpo” (Ary dos Santos – Fernando Tordo).

Sobre Beatriz da Conceição diz Paul van Nevel que a fadista se exprimia com uma força contida, que a sua interpretação é de uma tal tristeza emotiva, que consegue imprimir poesia mesmo aos silêncios entre as palavras e versos (cf. “Les Larmes de Lisbonne”).

Das edições discográficas destacamos: “Sou um Fado desta idade” (1996), da Emi-Valentim de Carvalho, “Beatriz da Conceição” (1997), edição “O Melhor dos Melhores”, da Movieplay, e, ainda, “O Melhor de Beatriz da Conceição”, editado pela Iplay em 2008. A fadista, como grande referência do Fado integra inúmeras colectâneas, a título de exemplo referimos: “Fado Capital”, editada pela Ovação em 1994, “Parque Mayer”, editada pela Valentim de Carvalho em 2003 e “Mulheres Fadistas”, CNM, 1998.

Muitos são os espectáculos que fez no estrangeiro, seja para cantar em comunidades portuguesas, nos Estados Unidos da América e Canadá, ou em festivais internacionais de música, para um público mais cosmopolita. A 1 de Novembro de 2007, no âmbito do “Festival Atlantic Waves”, Beatriz da Conceição esteve no Queen Elizabeth Hall, em Londres, partilhando o palco com as fadistas Maria da Fé, Mafalda Arnauth, Aldina Duarte, Joana Amendoeira e Raquel Tavares, num espectáculo intitulado “The Grand Divas of Fado”.

Beatriz da Conceição continua a ser uma forte referência para os jovens fadistas. Aldina Duarte revelou em diversas ocasiões que foi após ouvir Beatriz da Conceição cantar que desejou ser fadista. Mafalda Arnauth homenageou a fadista interpretando o tema de Max “Pomba branca, pomba branca”, no seu disco “Flor de Fado”. E Ana Moura convidou Beatriz da Conceição para o palco do Coliseu dos Recreios, a 26 de Junho de 2008, para interpretar o seu “clássico” “Meu Corpo”, um concerto que foi posteriormente editado em DVD.

Além de cantar em casas de fado, Beatriz da Conceição fez diversos espectáculos de que salientamos os seguintes: Casa da Música no Porto (2007), “Festa do Fado”, Castelo de São Jorge, em Lisboa (2007), “Vozes do Fado”, Auditório Municipal Ruy de Carvalho, em Carnaxide (2008), “Gala do Fado Carlos Zel”, no Casino Estoril (2008).

Em Maio de 2008, Beatriz da Conceição foi distinguida com o “Prémio Carreira” da Fundação Amália Rodrigues, e nesse mesmo mês foi homenageada também na sua cidade natal, com o espectáculo “Alma Lusitana”, que teve lugar no Teatro Sá da Bandeira.

Beatriz da Conceição faleceu a 26 de Novembro de 2015.

 

Fonte:

Programa do espectáculo “Um Porto de Fado” (2001), Lisboa, HM Música;

Programa do espectáculo “Les Larmes de Lisbonne” (1996), Abbaye-aus-Dames, 8 de Julho.

Baptista-Bastos (1999), “Fado Falado”, Col. “Um Século de Fado”, Lisboa, Ediclube.

 

 

 

 

 

 

 

Deolinda Rodrigues, Beatriz da Conceição e Maria Manuela Fragata Real, s/d.

Manuel Fernandes e Beatriz da Conceição, s/d.

Beatriz da Conceição, s/d.

Beatriz da Conceição, s/d.

  • Meu Corpo Beatriz da Conceição (Ary dos Santos / Fernando Tordo)