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Alberto Costa
(N. 8 junho, 1898 - M. 1 outubro, 1987)Alberto Simões da Costa nasceu em Torres do Mondego, freguesia do concelho de Coimbra, a 8 de Junho de 1898. Era ainda muito jovem quando a família se mudou para Lisboa, fixando-se no bairro de Alfama. O seu fascínio pelo fado surgiu muito cedo e, com apenas 11 anos, cantava para professores e colegas da escola. Em 1914 começa a cantar em público, fazendo actuações em colectividades, sociedades recreativas e festas de beneficência, palcos que fizeram de Alberto Costa uma das mais carismáticas figuras no género.
A par das actuações, Alberto Costa foi empregado de comércio mas, ao lado de grandes nomes do universo fadista, como Berta Cardoso, Ercília Costa, Joaquim Campos ou Alfredo Marceneiro, pertenceu a uma geração “que se vai afirmando ao longo da década de 1920 e inícios da de 30, e que face às oportunidades alargadas de apresentação pública e às condições atractivas de remuneração oferecidas pelo novo mercado tenderá a optar maioritariamente pela profissionalização (Nery (2004): 182).
Na sua edição de 22 de Abril 1923, o jornal “Canção do Sul”, apresenta Alberto Costa na capa da publicação, não poupando elogios às suas interpretações em festas de beneficência. Afirma-se que “Alberto Costa é um cantador de fado por excelência. Reúne a uma bela dicção uma voz impregnada do mais puro sentimento e isso tem feito dele um dos cantadores mais preferidos”.
O nascimento do Grémio Artístico dos Amigos do Fado, no bairro da Graça, deve-se também a Alberto Costa. Em entrevista ao jornal “Guitarra de Portugal”, o fadista afirma que o Grémio não quer a associação do Fado às tabernas, diz: “nós cantamo-lo sempre em partes que o dignifiquem, mas se um dia o cantarmos na taberna é para arrancar de lá os que o comprometem” (“Guitarra de Portugal”, 5 de Maio de 1923).
Alberto Costa tinha ideias muito definidas para a forma como os espaços de Fado deveriam ser, de forma a dignificarem o género e os seus intérpretes. Estas preocupações reflectem-se quando, em 1927, Alberto Costa se estreia como cantador profissional no Ferro de Engomar. Este velho retiro, sob a sua gerência artística, transformou-se num espaço de Fado com elenco fixo, frequentado por um público de classe média; uma primeira abordagem ao que viria a ser o ideal da “casa de Fado”, concretizada pela primeira vez em 1928, no Solar da Alegria, novamente com a gerência artística do fadista.
No seu percurso profissional registam-se, também, actuações no Retiro da Severa e no Café Mondego, bem como em teatros e casas aristocráticas.
Alberto Costa foi um dos primeiros artistas portugueses com edições discográficas. Em 1926 grava para a Valentim de Carvalho, a representante da Odeon em Portugal, a par de outros grandes nomes como Adelina Fernandes, Estêvão Amarante e Armandinho. As suas interpretações dos Fados “Lopes”, “Lés a Lés”, “Sem Pernas”, “Serrano” ou “Senhora da Saúde” foram sempre sinónimos de qualidade para o universo fadista.
Em 1930, Alberto Costa junta-se aos fadistas Alfredo Marceneiro, Ercília Costa, Rosa Costa; e aos instrumentistas João Fernandes e Santos Moreira, para formar a “Troupe Guitarra de Portugal”, um grupo artístico de reconhecido valor e com o qual o fadista efectuou numerosos espectáculos e digressões.
A sua primeira festa artística tem lugar na Academia Recreativa de Lisboa, na freguesia do Socorro, a 9 de Junho de 1932, organizada por um grupo de amigos do cantador e patrocinada pelo jornal “Guitarra de Portugal”.
Quatro anos mais tarde, a 14 de Abril de 1936, realiza-se mais uma festa artística, desta vez no Cinema Odeon. Um espectáculo dirigido por Joaquim Frederico de Brito que homenageia simultaneamente os fadistas Alberto Costa e Júlio Proença.
Em conjunto com outros intérpretes do elenco do Retiro da Severa, desloca-se em digressão pelo Norte do país, no final da década de 1930. O grupo, constituído por: Manuel Monteiro, Alberto Costa, Adelina Ramos, Maria do Carmo Torres e Maria Emília Ferreira, foi recebido com êxito estrondoso no Teatro Sá da Bandeira, no Porto.
Em 1937, registava Vítor Machado que o fadista “em digressões organizadas por si e em sociedade artística” tinha percorrido o Alentejo, o Algarve a Estremadura e que tinha recusado convites para ir ao Brasil, a África, a Paris, a Espanha e às ilhas portuguesas (Vítor Machado (1937): 45).
Depois de abandonar a vida artística, em 1939, Alberto Costa fixou-se em Silves onde abriu o Café “A Paulistana”. Apesar do afastamento da carreira artística actua na festa de homenagem a Alfredo Marceneiro, no Teatro São Luís a 25 de Maio de 1963.
Alberto Costa faleceu em Silves em Outubro de 1987.
Lamentavelmente Alberto Costa é uma figura pouco lembrada nas reedições discográficas, mas deixou na história do Fado a composição de alguns fados tradicionais. São da sua autoria as músicas do “Fado Bragança”, do “Fado Dois Tons” e do “Fado Torres do Mondego”, continuamente celebrizadas em interpretações de inúmeros fadistas de referência, de que são exemplo Carlos do Carmo (no tema “Não se morre de saudade”, um poema de Júlio de Sousa cantado no “Fado Dois tons”), Carlos Zel (no tema “Quando o peito tem saudade”, um poema de Maria Manuel Cid interpretado no “Fado Bragança”) ou, ainda, Kátia Guerreiro (no tema “Muda tudo até o mundo”, com poema de Maria Luísa Baptista para o “Fado Torres do Mondego”).
Fonte:
“Canção do Sul”, 22 de Abril de 1923;
“Guitarra de Portugal”, 5 de Maio de 1923;
“Guitarra de Portugal”, 17 de Setembro de 1930;
“Guitarra de Portugal”, 18 de Junho de 1932;
“Guitarra de Portugal”, 4 de Julho de 1932;
“Guitarra de Portugal”, 4 de Abril de 1936;
“Guitarra de Portugal”, 25 de Fevereiro de 1939;
Machado, A. Victor (1937) “Ídolos do Fado”, Lisboa, Tipografia Gonçalves;
Guinot, M.; Carvalho, R.; Osório, J. M. (1999), “Histórias do Fado”, Lisboa, Ediclube;
Nery, Rui Vieira (2004), “Para uma História do Fado”, Lisboa, Pùblico/Corda Seca.
Alberto Costa s/d.
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Quando o Peito Tem Saudade Carlos Zel (Maria Manuel Cid / Alberto Costa - Fado Dois Tons)