18 abril, 2015

Quando Foram os Anos 80?

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O Museu do Fado acolhe o colóquio internacional Quando Foram os Anos 80? no dia 18 de Abril de 2015.

 
 
É necessária inscrição no colóquio de dia 16 e 17 de Abril, na mesa-redonda de dia 18 de Abril, e no passeio de dia 19 de Abril. 
Para inscrições enviar e-mail para whenwerethe1980s@gmail.com

 

Em Quando Foram os Anos 80?  trata-se de abordar um período histórico por via de uma série de iniciativas em que se procura tanto mapear o que neste campo tem vindo a ser feito, quanto abri-lo a estudos futuros.

Assim – e tendo como pano de fundo não a cronologia linear mas os anos 80 entendidos enquanto interrogação – propõe-se um colóquio organizado em open call, bem como uma conjunto de actividades (sessões de música comentada, maratona de TV, passeio pelos lugares dos anos 80, cinema…) onde uma revisitação crítica e sensorial de uma série de espaços, práticas, imagens e produtos ‘da época’ terá lugar. Muito embora o âmbito da iniciativa seja, por agora, maioritariamente nacional, sábado, dia 18, haverá espaço para um diálogo com realidades de outros países por via da participação especial da rede de museus L’internationale com o projecto The Uses of Art – The Legacy of 1848 and 1989.

 

Programa

 

ANOS 80 PORQUÊ?* [ mesa-redonda ] - 18 de Abril, 12h-18h, no Auditório do Museu do Fado

*Mesa-redonda organizada por L’Internationale Online uma plataforma online, da confederação de museus L’Internationale.

Moderadores: Jesús Carrillo (Museo Nacional de Arte Reina Sofia), Nataša Petrešin Bachelez (L’Internationale Online/KASK), Luis Trindade (When Were The 1980’s?)

Participação: Nav Haq (Museum of Modern Art, Antwerp), Miran Mohar (Irwin group/ Neue Slowenische Kunst) Merve Elveren, (SALT, Istambul), Rosario Peiró, (Museo Nacional de Arte Reina Sofia), Ana Bigotte Vieira (When Were the 1980’s?)

 

12h ABERTURA

Apresentação da confederação de museus L’Internationale: o projecto de cinco anos Os Usos da Arte – o legado de 1948 e 1989.

 

PAUSA PARA ALMOÇO

 

14h ANOS 80 PORQUÊ? OS USOS DA ARTE: OS ANOS 80

SALT (Istambul) How did we get here?, Autumn 2015

Os anos oitenta na Turquia encontram-se marcados pelo legado do regime militar instituído pelo golpe de 1980 e pela regulação económica do governo que estabeleceu laços estreitos com a finança global. How did we get here? [Como Chegámos Aqui?] debruça-se sobre os conflitos e as colaborações alternativas que então emergiram – e que ainda hoje ecoam.

As reformas neoliberais dos anos oitenta, com o seu afluxo de capital estrangeiro, não só contribuíram para o crescimento económico, como, com a sua tentativa de integração do país numa ordem global, modificaram radicalmente as práticas quotidiana, o planeamento urbano e a vida privada.

A remodelação governamental do país levou à implementação sistemática de projectos de renovação urbana e, à medida que em resposta a novos produtos e marcas a publicidade se disseminava, floresciam com ela hábitos de consumo e aspirações novas, incitando à reestruturação acelerada do tradicional sistema de classes. A flexibilidade económica e, sobretudo, os seus frutos sociais, pareciam colidir com a atmosfera repressiva pós-golpe de Estado, mas apenas em finais dos anos oitenta a sociedade civil viria a desempenhar um papel activo na democratização e alteração do status quo.

Transformada a vida quotidiana num campo de batalha político, uma série de grupos então emergentes – de feministas socialistas, a ambientalistas, a activistas e académicos pelos direitos gay – forjaram colaborações, aliando-se na critica às proibições estatais e desenhando uma nova ordem para o político.

O projecto How Did We Get Here? organizado pelo SALT (Istambul) pretende mapear estas lutas, contribuindo com isso para a demarcação de um centro do actual conflito que atravessa o país, hoje novamente num momento de viragem.

 

MHKA, Energy Flash – o movimento Rave Movement, 2016

A cultura Rave dos anos oitenta e noventa terá provavelmente constituído o último grande movimento juvenil. Para quem se sentia desapontado quer com o capitalismo quer com o Estado, a cultura Rave funcionou como um terceiro espaço, um delírio nascido do desejo de uma vida alternativa ou de ‘contracultura’ e construído em torno da energia latente da música electrónica.

As rave parties, formadas por concentrações de pessoas espontaneamente organizadas e dotadas de uma lógica colectiva interna, onde as diferenças de raça e classe eram transgredidas, funcionaram, em si, como zonas autónomas. Pouco após a sua emergência no Reino Unido, logo seguida de perto pela Bélgica, a Alemanha, a Holanda e França, o afluxo de pessoas a uma rave party chegava regularmente às dezenas de milhares. Sintomaticamente, este contexto providenciou as condições para o eclodir de um dos mais densos períodos em termos de diversificação musical. Nav Haq, que presentemente prepara uma exposição sobre o movimento Rave na Europa (com exibição prevista para 2016 no MuHKA), situará este movimento no contexto económico e social que terá lavado ao seu advento, equacionando as ramificações que o mesmo acarretou tanto em termos de liberdades civis como de legislação proibitiva e criminalizadora da cultura rave.

MNCARS, Minimal Resistance, October 16, 2013 - January 5, 2014

Nesta selecção de trabalhos da sua colecção, o Museu Reina Sofia propõe um olhar atento sobre a arte produzida em Espanha entre os anos 1980 e 1990.

Minimal Resistance incide sob a procura dos artistas por novos espaços de resistência num mundo globalizado e examina uma série de dualidades que polarizaram o período em questão: da crise económica global ao capitalismo financeiro; do potencial do colectivo à recuperação do mito do artista; de intervenções a reclamar espaços públicos aos discursos em torno da memória e do corpo; de uma forma de teatralidade que enfatiza a cena e a arquitectura às linguagens performativas e aos modelos relacionais; da reabilitação dos géneros tradicionais à apropriação de imagens dos media e da cultura de massas.

Estas tensões, em grande parte sinal dos tempos, traduzem-se numa multiplicidade de práticas e discursos que se sobrepõem, e numa renovação dos códigos e linguagens artísticas assentes na percepção da modernidade como algo já passado.

Esta exposição propõe o diálogo entre obras que, na sua maioria, por se tratarem de aquisições recentes ou de peças em depósito, não foram apresentadas no Museu. Dada a natureza inevitavelmente fragmentária do ponto de arranque de qualquer colecção de arte contemporânea, esta será apenas a primeira de uma série de novas apresentações futuras da Colecção.

 

MG+MSUM, NSK From Kapital to Capital – Neue Slowenische Kunst [Nova Arte Eslovena], um evento da década final da Jugoslávia, 12 Maio - 17 Agosto de 2015

NSK from Kapital to Capital é a primeira exposição retrospectiva do colectivo NSK a incidir sobre a época de mudança radical que foram os anos oitenta na ex-Jugoslávia. No final da década, no país que lentamente se desmembrava, mas que da boca para fora continuava a insistir na retórica de sistema socialista de auto-gestão, os NSK proclamaram bem alto e bem cedo que o rei ia nu – da primeira intervenção dos Laibach com posters em 1980 em Trbovlje à série de trabalhos de inícios da década de 1990, intitulada Kapital. Subjacentes aos princípios fundamentais estabelecidos pelos Laibach em 1982 nos seus “10 Pontos de Concertação” (de que “toda a arte está sujeita a manipulação política, à excepção da que fala a mesma linguagem que a própria manipulação”, e com isso lhe define os contornos), os grupos e departamentos criados pelos NSK desenvolveram, ao longo dos anos oitenta, um método artístico consistente: um abordagem retro do próprio fazer da arte, baseada na negação da liberdade artística individual, da originalidade e da autoria, advogando, em contrapartida a citação táctica, a repetição e o readymade por encomenda. Parecendo em sintonia com o espírito dos anos oitenta e a sua mania da citação, o trabalho dos NSK, com o seu método claramente articulado, a sua terminologia conscientemene desenvolvida e os seus objectivos estéticos e políticos bem delineados, encontra-se justamente à sua revelia, o que o posicionafora das aproximações canonizadoras da historicização da arte dos anos oitenta. 

É que NSK não aspirava ao estatuto de arte dissidente: ao apropriar as linguagens políticas e artísticas dominantes das sociedades do século XX, NSK adoptou uma posição aparentemente afirmativa. Desinteressado, do mesmo modo, em melhorar o actual sistema por meio da crítica, combateu por uma mudança mais radical, que apenas poderia ser alcançada por via de gestos disruptores das consciências através de tácticas performativas, do método retro, da indução à sobre identificação para se alcançar a desidentificação e pelo desmascarar da economia do prazer em que toda e qualquer ideologia se baseia. A apresentação será levada a cabo por Miran Mohar, membro do colectivo NSK, do grupo de teatro que mais tarde se chamará IRWIN e do Grupo Novo Colectivismo.