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Pedro Lisboa
(N. 14 julho, 1951)José António Marques Pedro (Pedro Lisboa) nasceu e cresceu em Lisboa, em Xabregas, com mais três irmãos, no seio de uma família muito musical, onde a mãe e o avô materno cantavam e o pai tocava acordeão. Desde pequeno que ouvia fado em casa, longe de saber que faria deste a sua maior vocação. Começou por apreciar os poemas, que lhe prendiam a atenção e, aos poucos, começou a relacioná-los com as suas experiências de vida até que, por volta dos seus 15 anos, um vizinho convidou-o para cantar na Sociedade Musical União do Beato. A partir desse momento, Pedro Lisboa nunca mais parou de cantar.
Ainda jovem, partiu para uma missão em Moçambique e Angola, enquanto Segundo Sargento da Força Aérea Portuguesa e onde continuou a dar os seus espectáculos, sonhando sempre com a profissionalização. Nos dois anos e meio que esteve em missão, cantou no Hotel Zambeze, em Tete (Moçambique) e, em Angola, actuou na “Severa”, “Muxima”, “Dom Quixote”, “Tamar” e fez parte dos espectáculos “Chá das Seis”, “Cinema Nacional” e “Sétima Esquadra”, onde teve oportunidade de conviver com grandes nomes do Fado, como Alfredo Duarte Júnior, Vasco Rafael, Gina Guerra, Vicência Lima, João Sequeira, Odete Mendes, Carlos Macedo, Zeferino Ferreira, Ana de Carvalho, Humberto Andrade e Maria José da Guia.
Volvido de África, fixou-se em Cascais, onde cantou em várias Casas de Fado, como o “Kopus Bar”, “Arreda”, “Galito” e “O Picadeiro”, de António Chainho até que o salto para as casas da capital se deu após uma conversa de Lucília de Carmo com o guitarrista. A fadista, que já havia ouvido falar de Pedro Lisboa, pediu a Chainho que o avisasse de que Carlos do Carmo gostaria de reunir com ele para actuar n’ “O Faia”. Pedro Lisboa agarrou a oportunidade e permaneceu n’ “O Faia” meio ano, dividindo-se entre esta casa e o “Kopus Bar”. Nesta última, encontrava regularmente Ada de Castro que viria a tornar-se sua madrinha de Fado e que o convidou para cantar na casa de Fados onde actuava, “A Severa”. Aí ficou como fadista durante nove anos. A convite de Tony de Matos, foi para a cidade do Porto, onde permaneceu durante quatro meses e percorreu as mais conhecidas casas de Fado da cidade. Volvido a Lisboa, actuou também no antigo “Painel do Fado”, na “Adega Machado”, no “Luso”, entre outros. Contudo, foi na “Parreirinha de Alfama” onde permaneceu durante mais tempo, aí actuando durante quinze anos.
Algumas das suas referências, para além de Ada de Castro, são Tristão da Silva, Rodrigo, Carlos Ramos, Manuel de Almeida e Max, de quem bebeu vários conselhos e inspiração musical, assim como Maria de Lourdes Carvalho, que também o amadrinhou e lhe deu o seu nome artístico.
O Fado de Pedro Lisboa não se fica pelo tradicional. A voz e interpretação do fadista vão desde as melodias tradicionais, até ao fado-canção, passando também pela música ligeira e teatro de revista, tendo popularizado vários temas.
Cantando sempre como amador, profissionalizou-se em 1972 e, nos anos 80, obteve a sua primeira carteira profissional. A sua carreira levou-o a inúmeros países, como Espanha, Bélgica, França e, em especial, Itália, país com o qual desenvolveu um intercâmbio cultural de artistas.
Por escolha própria, Pedro Lisboa conciliou sempre a carreira de fadista com outra profissão. Começou por ser serralheiro soldador até que, em 1982 foi convidado pelo grupo Grupolis para aí trabalhar, tendo entrado para os quadros dois anos depois e onde continua actualmente, fazendo parte da direcção da filial de Lisboa. É casado com Virgínia Gomes, ex-atleta e uma das recordistas de velocidade mais importantes de sempre, e vive actualmente na cidade de Setúbal, inúmeras vezes cantada pelo artista. Em troca, a cidade recebeu-o de braços abertos e, em 2019, nomeou-o Embaixador para a defesa e promoção nacional e internacional do património da cidade. Três anos depois, a 15 de Setembro, Pedro Lisboa foi agraciado com a Medalha de Honra da cidade, na classe de Actividades Culturais.
O carinho de Pedro Lisboa pela cidade Setúbal denota-se também nos inúmeros concertos que dá na cidade. A 14 de Novembro de 2021, por exemplo, o artista actuou no Fórum Luísa Todi, num espectáculo em nome próprio que contou com convidados, como Gonçalo Salgueiro, Maria Mendes, Inês Duarte, José Maria Fonseca, Deolinda de Jesus e do Grupo Coral Alentejano “Unidos do Lavradio”.
A sua carreira artística de mais de cinquenta anos também está plasmada na sua discografia. Em 1978, edita os seus dois primeiros EPs, “O Fado é bonito” e “Trinta Dinheiros”, ambos pela label Alvorada e, em 1982, lança “Lembras-te, Mãe” e o seu primeiro LP, “Pedro Lisboa”, da Discosete, onde se destacam temas como “Recado”.
Dois anos depois, “Rios de Fado”, editado pela Movieplay, cujo tema “Não vás, amor, fica comigo” deu o mote para o restante repertório do disco. Em 1985, surge “Português de corpo inteiro”, o seu quarto EP e, em 1987 e 1989, Pedro Lisboa lança “Fado quanto te quero” e “Pedro Lisboa”. Os anos 2000 trouxeram Pedro de volta ao estúdio, desta vez para gravar CD. Logo no início do novo milénio, lança “O fado que eu conheci”, seguindo-se “Fado” (2002), “Falas do coração” e “Fado Coração” (2006), “O meu coração alfacinha” (2009), “Notas com amigos” (2011) e “Lisboa, o fado e a guitarra” (2013).
O seu último trabalho, “Pedaços de mim” (2021), é um tributo sentido à sua mãe e conta com quinze temas, sendo “Rainha do Sul”, a faixa que encerra o disco, da sua inteira autoria e que contou com as vozes do Grupo Coral Alentejano “Unidos do Lavradio”. Neste disco, Pedro Lisboa junta a sonoridade clássica da guitarra portuguesa, da viola e da viola-baixo, aos sons tradicionais do acordeão, num disco cheio de portugalidade e onde a voz limpa e serena de Pedro Lisboa nos transporta para um plano de contemplação não só dos sentimentos, mas da tradição do Fado.
Fonte:
Entrevista com Pedro Lisboa, 2022