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José Régio

(N. 17 setembro, 1901 - M. 22 dezembro, 1969)

Pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira, José Régio marcou de forma indelével o panorama literário português, protagonizando e definindo o período que se designou de segundo modernismo. Natural de Vila do Conde e filho de pai ourives, Régio deixou um legado intelectual rico e complexo, uma obra variada que espelha uma “personalidade intrigante, provocante e dificilmente catalogável” (Eugénio Lisboa in “O Essencial sobre José Régio”, 2007). Apesar de não ter a escrita como principal atividade profissional, notabilizou-se como poeta, romancista, ensaísta, dramaturgo e crítico. São também assinaláveis os seus textos epistolares, preciosas fontes de pensamento crítico e filosófico. Escreveu o seu primeiro caderno de poesias aos 12 anos e aos 15 anos publicou o primeiro texto em prosa no jornal “O Democrático”.

Em 1920, José Régio parte para Coimbra a fim de se licenciar em Filologia Românica na Faculdade de Letras e dá então início a um período de grande prosperidade e fervor criativo. Entre 1926 e 1927, é editado “Poemas de Deus e do Diabo” – hoje considerado um clássico da literatura portuguesa, que inclui o poema “Cântico Negro” – e é lançado o primeiro número da revista “Presença”. Esta “folha de arte e crítica”, fundada em parceria com João Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca, promove um programa estético e uma corrente de pensamento que vai insuflar a segunda vida do modernismo em Portugal.

Em Portalegre inicia a sua carreira de docente de liceu sem abandonar a atividade literária que, aliás, se mantém florescente. A cidade alentejana inspirou o poema “Toada de Portalegre” que o fadista Ricardo Ribeiro interpretou em 2016 com o músico libanês Rabih Abou-Khalil e com a Orquestra Metropolitana de Lisboa, num espetáculo comemorativo do 5º aniversário da inscrição do Fado na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade (UNESCO). Estes célebres versos foram editados em 1941 na obra “Fado”. Nesta edição encontramos “Fado Português”, tema que Amália Rodrigues grava em 1965 com música de Alain Oulman num disco batizado com o mesmo nome. Numa carta dirigida ao compositor em 1964, vemos José Régio declarar o seu enorme respeito pela fadista: “Decerto gostaria de ouvir o meu Fado Português cantado pela grande Amália Rodrigues, que há muito admiro”. O sentimento era recíproco, uma vez que a fadista era uma confessa apreciadora da obra regiana, sabendo de cor a peça de teatro “Jacob e o Anjo” (“O Fado da tua voz - Amália e os Poetas”, 2014).

Depois de 30 anos dedicados ao ensino liceal, Régio reforma-se e regressa definitivamente a Vila do Conde em 1966. Publica o último volume de poesia em 1968 – “Cântico Suspenso” – e falece no ano seguinte na sua terra natal.  

  

Fonte:

Novais, Isabel Cadete (2002), “José Régio – Itinerário Fotobiográfico”. Coleção Presenças da Imagem. Imprensa Nacional - Casa da Moeda. Câmara Municipal de Vila do Conde.

Santos, Vítor Pavão (2014), “O Fado da Tua Voz – Amália e os poetas”. Bertrand Editora,

“As mãos que trago. Alain Oulman 1928-1990” (2009). EGEAC E.E.M/Museu do Fado.

Lisboa, Eugénio (2007), “O Essencial sobre José Régio”. Imprensa Nacional - Casa da Moeda.

Amália Rodrigues, Fado Português, LP Columbia, 1965

José Régio e David Mourão-Ferreira, 1952.