Conheça melhor:
Joel Pina
(N. 17 fevereiro, 1920 - M. 11 fevereiro, 2021)Ao longo de décadas sucessivas e durante cerca de 80 anos de vida artística, Joel Pina contribuiu e protagonizou alguns episódios do maior significado para a história do Fado. Teve, entre outros, um contributo determinante para a consagração do Fado como Património Cultural Imaterial da Humanidade (UNESCO). Com Amália Rodrigues, que acompanhou em palcos e gravações ao longo de 29 anos, levou o Fado ao mundo. Profundamente acarinhado por distintas gerações de intérpretes e músicos, Joel Pina foi - é - um nome Maior da música portuguesa.
No dia 24 de Setembro a Câmara Municipal de Lisboa prestou-lhe homenagem no Teatro São Luiz com um concerto de celebração dos seus 100 anos em que participaram Ana Sofia Varela, António Pinto Basto, António Zambujo, Beatriz Felício, Carminho, Gaspar Varela, Gonçalo Salgueiro, Joana Almeida, Joana Amendoeira, João Braga, Katia Guerreiro, Lenita Gentil, Maria da Fé, Mariza, Matilde Cid, Mísia, Nuno da Câmara Pereira, Pedro Moutinho, Ricardo Ribeiro, Rodrigo Costa Félix, Rodrigo Rebelo de Andrade, Tânia Oleiro, Teresa Siqueira, Teresinha Landeiro, Zé Maria Souto Moura.
“O fado é a música que mais me emociona”, diz-nos Joel Pina no documentário “Fado” (Sofia de Portugal Aurélio Vasques, 2012) e não será por acaso que no seu percurso musical encontramos mais de seis décadas de fado.
João Manuel Pina nasceu no Rosmaninhal, uma aldeia do concelho de Idanha-a-Nova, a 17 de Fevereiro de 1920. Adoptou o nome artístico de Joel Pina e a interpretação da viola baixo para o seu percurso como músico profissional.
O nome de Joel Pina é indissociável da história do fado, seja pela contribuição fundamental que deu na integração da viola baixo no conjunto de instrumentos de acompanhamento do fado, seja pela qualidade interpretativa que o destacou desde que se profissionalizou em 1949.
Através das emissões radiofónicas teve os primeiros contactos com o fado, ainda em criança e, com 8 anos, começou a tocar, quando o pai, numa viagem a Lisboa, lhe comprou um bandolim. Seguiu-se a viola e a guitarra. A sua aprendizagem foi autodidacta e pela observação dos outros, como próprio descreveu a Baptista Bastos: “na minha terra tocava-se muito e, então, via os outros e talvez por uma questão de intuição comecei logo a mexer na viola e a mexer na guitarra também.” (Bastos: 256).
Em 1938 mudou a sua residência para Lisboa e, como apreciador de fado, frequentava assiduamente o Café Luso. Nessa casa conheceu Martinho de Assunção que, em 1949, o convidou para integrar o Quarteto Típico de Guitarras de Martinho de Assunção. Deste conjunto faziam também parte Francisco Carvalhinho e Fernando Couto. É neste conjunto que Joel Pina se começa a dedicar à viola baixo e, nesta altura, que se profissionaliza como músico.
No ano seguinte passa a integrar o elenco da Adega Machado, com Francisco Carvalhinho, na guitarra, e Armando Machado, na viola. Neste ambiente Joel Pina começa a construir a presença da viola baixo no acompanhamento instrumental do fado, que até essa altura não era habitual. Vai manter-se no elenco desta casa durante 10 anos.
Em paralelo, Joel Pina trabalhou como funcionário público na Inspecção Económica. Iniciou esta actividade em 1961 e manteve-a até se reformar.
No decorrer do seu percurso profissional foi um dos fundadores do Conjunto de Guitarras com Raul Nery, Fontes Rocha e Júlio Gomes. Este quarteto alcançou um sucesso extraordinário e foi um marco na interpretação musical do universo do fado. O conjunto surgiu por iniciativa de Eduardo Loureiro, chefe do departamento de música da Emissora Nacional, que convidou Raul Nery a formar um conjunto, com o intuito de apresentar na rádio, quinzenalmente, um programa de guitarradas. Em 1959 iniciaram-se as emissões regulares e o programa prolongou-se por 12 anos.
O Conjunto de Guitarras de Raul Nery “estabeleceu um conjunto instrumental maior para o acompanhamento do fado e para a execução do reportório instrumental ligado a esse género, contribuindo também para a formulação dos papéis musicais da primeira e da segunda guitarra, bem como da viola baixo.” (Castelo-Branco: 127). Para além das emissões radiofónicas e da gravação de inúmeros discos, o conjunto popularizou-se, também no acompanhamento dos mais carismáticos intérpretes de fado, nomeadamente Maria Teresa de Noronha ou Amália Rodrigues, entre muitos outros.
A partir de 1966 Joel Pina começa a acompanhar regularmente Amália Rodrigues, actividade que mantêm por três décadas até ao final da carreira da fadista. Com ela percorrerá os palcos de todo o mundo, em inúmeros espectáculos e digressões que passam, por exemplo, pelo Canadá, Estados Unidos e Brasil (diversas vezes), Chile, Argentina, México, Inglaterra, França, Itália (diversas vezes), Rússia, cinco vezes ao Japão, Austrália, África do Sul, Angola, Moçambique, Macau, Coreia do Sul.
A vasta carreira de Joel Pina torna quase impossível a tarefa de enumerar os fadistas com quem tocou. Para além das já mencionadas Amália Rodrigues e Maria Teresa de Noronha, marca presença na gravação de discos e espectáculos de fadistas como Carlos do Carmo, Carlos Zel, João Braga, Fernando Farinha, Nuno da Câmara Pereira, João Ferreira-Rosa, Teresa Silva Carvalho, Fernanda Maria, Celeste Rodrigues, Carlos Ramos, Lenita Gentil, Rodrigo e também Cristina Branco, Joana Amendoeira ou Ricardo Ribeiro.
O seu percurso artístico é consensualmente reconhecido. Foi condecorado em Maio de 1992 com a Medalha de Mérito Cultural pelo Estado Português. Em 2012 recebe a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique. No mesmo ano recebe a Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa.
A 24 de Setembro de 2020 a Câmara Municipal de Lisboa presta-lhe homenagem no Teatro São Luiz descerrando uma placa com o seu nome junto à placa evocativa de Amália Rodrigues que acompanhou em palco durante cerca de três décadas.
Fonte: