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Fernando Alvim

(N. 6 novembro, 1934 - M. 27 fevereiro, 2015)

A 6 de Novembro de 1934, nasce na cidade de Cascais, Fernando Gui San Payo de Sousa Alvim. Referenciado hoje como um dos mais notáveis músicos portugueses, Fernando Alvim principiou-se na música através do violoncelo e mais tarde, ao lado de Pedro Araújo, aprendeu os primeiros acompanhamentos de fado. Já na sua juventude, inicia o estudo de guitarra clássica na Escola de Guitarra do Prof. Duarte Costa em Lisboa, tendo posteriormente frequentado no Conservatório Nacional, cursos de guitarra clássica, leccionados pelo Prof. Emilio Pujol e que decorriam nos meses de verão.

Embora o nome de Fernando Alvim seja uma referência dentro da linha instrumental do fado, o seu interesse e influência estende-se a outras correntes musicais, nomeadamente o jazz e a bossa-nova que complementam a versatilidade musical que tanto caracterizam o viola. Ainda jovem torna-se frequentador do Hot Club uma vez que “já tinha ouvido nas rádios estrangeiras e como tinha trazido discos de fora quis tentar o contacto directamente com as pessoas entendidas no assunto…”, confidenciou em entrevista. Neste contexto, deve-se a Fernando Alvim a divulgação, em primeira-mão, da bossa-nova através do programa “Nova Onda” emitido quinzenalmente na Emissora Nacional na década de 60.

É a audição deste programa que leva Carlos Paredes a encetar o convite a Fernando Alvim para que este o acompanhe na banda sonora do documentário sobre filigranas portuguesas, realizado por Cândido Costa Pinto, "Rendas de metais preciosos" (1960) dando início a um trabalho que se revelaria excepcional e que durará cerca de três décadas (1959-1984). Fernando Alvim participa em todo o trabalho criativo de Carlos Paredes e junto do guitarrista colabora na criação de harmonias e acompanhamentos rítmicos: “Não se limitando a ser um mero acompanhante do solista, Fernando Alvim teve um papel fundamental no envolvimento criativo da música de Paredes, enriquecendo com acordes dissonantes o encadeamento melódico do seu discurso e conferindo-lhe uma dinâmica suplementar sóbria e equilibrada". (cf. “Estar com Paredes”, pág. 38). Esta sinergia, revelada pelo trabalho excepcional dos dois músicos, assinalará um marco na história da música portuguesa.

O trabalho desenvolvido pelos dois músicos, que juntos gravaram toda a discografia, foi alvo de excelentes críticas, tendo sido apresentado nas principais salas de espectáculo dos cinco continentes.

No acompanhamento à guitarra de Carlos Paredes contabilizam-se as inúmeras participações no teatro e cinema, com especial destaque para as obras teatrais "Bodas de Sangue" e “A Casa de Bernarda Alba”, de Federico Garcia Lorca e “O Render dos Heróis” de José Cardoso Pires. Sob a direcção do realizador Paulo Rocha participou nas obras "Os Verdes Anos" (1962) e "Mudar de Vida" (1966), entre outros filmes. (cf. “Estar com Paredes”, pág. 38 e 40) A intensa actividade desta extraordinária dupla leva-os a colaborar também com o Grupo de bailado e folclore "Verde-Gaio" e com o Ballet Gulbenkian.

Em 1961 emprega-se na Petrogal como escriturário e sem nunca renunciar à música – e no caso específico ao fado, Fernando Alvim mantêm-se em contacto directo com os artistas e músicos, frequentando os espaços onde o mesmo acontece. A primeira casa de fado onde se estreia é no Abril em Portugal, entre os anos 1968/1970 ao que se segue o Luso. Ao lado de guitarristas como António Luís Gomes, António Bessa, António Chaínho, João Torre do Vale, Jaime Santos, José Nunes, Mário Pacheco, Pedro Caldeira Cabral, acompanhou e gravou com diversos artistas de fado, especial destaque e regularidade para Luz Sá da Bandeira, Mísia e Vicente de Câmara. Paralelamente foram assíduas as suas apresentações em programas na Emissora Nacional, o já referido programa “Nova Onda” e “Serões para Trabalhadores”.

Também a televisão se torna um palco para as criações musicais de Fernando Alvim que em finais da década de 60 é uma referência no programa de variedades "Zip-Zip". Neste programa, e segundo as suas palavras, “colabora na harmonização das canções a apresentar, na selecção de interpretes…” tendo para o efeito “composto várias músicas”.

Em 1969 grava intemporal tema "Pedra Filosofal" ao lado de Manuel Freire.

A título pessoal e com criações da sua autoria, forma, na década de 70, o seu conjunto musical, do qual faziam parte Pedro Caldeira Cabral, António Luís Gomes e Edmundo Silva. Juntos, gravam 2 EPs e 1 LP para além dos programas de guitarradas e outros espectáculos.

Retomando o seu discurso, Alvim confessa: “Sempre gostei mais do campo harmónico, dos tons, das harmonias. A harmonização foi sempre o que me fascinou mais, gosto de acompanhar e harmonizar, de tirar tons, isto é o que me dá mais prazer.” Sublime e genial, Fernando Alvim atravessa outras áreas musicais para além do fado, acrescentando ao seu vasto curriculum musical as colaborações com Adriano Correia de Oliveira, Caetano Veloso, Charlie Hayden, Chico Buarque, Elba Ramalho, Filipa Pais, Isabel de Noronha, José Carlos Ary dos Santos, José Afonso, Marta Dias, Rão Kyão, Teresa Paula Brito, Teresa Silva Carvalho, Teresa Salgueiro, Vinicius de Moraes, entre muitos outros.

Em 7 de Junho de 2005 recebeu a medalha de mérito cultural atribuída pela Câmara Municipal de Cascais.

Fernando Alvim continua a trabalhar com todas as gerações de artistas mantendo estreita colaboração com o guitarrista António Chaínho.

O CD “Nas Veias de Uma Guitarra – Tributo a Fernando Alvim” junta duas gerações de músicos. Lançado em 2007, este trabalho resulta de um desafio lançado pelo jovem guitarrista Ricardo Parreira, em homenagear o viola Fernando Alvim. Com efeito, este gesto de tributo e respeito combina a mestria de Fernando Alvim e a irreverência de Ricardo Parreira dando origem a um dos mais singulares trabalhos discográficos.

Fernando Alvim faleceu em 2015, em Vila Nova de Ourém.

 

Fonte:

Catálogo da exposição "Estar com Paredes", CML/EBAHL, 2000

Museu do Fado - Entrevista realizada em 10 de Novembro/2006

Biografia entregue por Fernando Alvim em 10 de Novembro/2006

Carita, Alexandra e Jorge Simão (2006), “Fados Nossos”, Lisboa, Aletheia Editores;

“Actual”, revista do jornal “Expresso”, 06 de Abril de 2007

 

Fernando Alvim, s/d.

Fernando Alvim e Carlos Paredes, s/d.

Fernando Alvim e Carlos Paredes, Sociedade Portuguesa de Autores, s/d.

Fernando Alvim e António Chaínho, s/d.

  • Verdes Anos Carlos Paredes/ Fernando Alvim (Carlos Paredes)