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Ermelinda Vitória

(N. 24 janeiro, 1892 - M. 1983)

Ermelinda Vitória nasce em finais do século XIX, no emblemático bairro da Mouraria, em Lisboa.

Embora os seus registos biográficos sejam escassos, várias fontes referem-se a Ermelinda Vitória como uma das mais populares cantadeiras da década de 30. De facto, é nos primeiros anos da sua infância que Ermelinda se destaca cantando por diversas vezes em público.

Em Setembro de 1930, Ermelinda Vitória e Joaquim Viegas são os vencedores do Concurso de Fado dos Bombeiros Voluntários do Dafundo. (cf. “Guitarra de Portugal”, 27 de Setembro de 1930). Ainda no mesmo ano, em 26 de Outubro, realiza-se na Cervejaria Jansen uma Festa de Homenagem a Ermelinda Vitória “que vai ter na tarde de 26 a compensação do seu incansável amor ao fado e dos sacrifícios que sempre tem dispensado a centenas de festas de beneficência.” (“cf. “Guitarra de Portugal”, 18 de Outubro de 1930)

No dia 26 de Outubro de 1929 João Linhares Barbosa redigia na “Guitarra de Portugal”: "Em 1892 nasceu na Mouraria, antigo bairro de Lisboa, Ermelinda Vitória, filha de gente humilde. Seu pae, conhecido pelo Joaquim Enguia, era um dêsses peregrinos tocadores de guitarra que levam às feiras e romarias as notas emotivas do Fado.

Quando Ermelinda tinha apenas 9 anos de idade, seu pai fê-la cantar numa "venda", em Setúbal, e tão bem se soube haver a pequena cantadeira, que o “Calafate”, o "Grande Cantador de Setúbal", lhe dedicou um feliz improviso, que foi uma profecia. Desde então Ermelinda Vitória afez-se à cruzada do Fado e era vê-la pela aldeia mais recôndita cantarolando, os fados que os prelos atiravam para as gargantas dos romeiros cantadores. Era atentar nela: franzina, saia rodada, cabelo preto, em bandós, com a sua guitarra, atirando ali e acolá uma cantiga sempre a propósito, no corrido, no menor ou no choradinho.

E começou a ser desejada e bemvinda esta cotovia dos arrabaldes!...” (cf “Guitarra de Portugal”, 26 de Outubro de 1929).

Ermelinda passou pelos Retiros do “Bacalhau”, “Ferro de Engomar”, “José dos Pacatos”, “Perna de Pau”, “Fonte do Louro” e “Quinta da Montanha”, para além das tradicionais esperas de touros. (Sucena, 1992:196)

Retomando João Linhares Barbosa: “Os tempos mudaram (...) a cantadeira deixou os retiros de fora de portas e veio cantar para a cidade, nos Casinos e Teatros (Ginásio, São Luís, Maria Vitória, Trindade, Apolo e Capitólio). As élites (...) levam-na a suas casas, porque ela, seguindo sempre na vanguarda das cantadeiras, tem um "tic especial: não usa cabelo cortado, não quer chapéu e, nos clubes americanados, não fuma, e ao contrário da "Maria da Graça" não tem "cinzeiros em casa".

Ermelinda também cantou em casas particulares, entre elas a de D. Roberto Burnay.

Acompanhada à guitarra por Armando Freire " Armandinho " Ermelinda cantou numa festa do Clube Monumental em homenagem ao duque de Lafões e na qual participaram as fadistas Maria do Carmo e Maria Emília Ferreira.

Quando canta Ermelinda não abdica do seu xaile, e “Martinho D´Assunção, é o seu poeta preferido, foi o único que veio ao encontro da sua aspiração plebeia e emotiva, escrevendo-lhe a sua mais querida cantiga: "O Xaile" “(cf. João Linhares Barbosa, in Guitarra de Portugal, 26 Outubro de 1929).

Ermelinda foi honrada com uma Festa de Homenagem, em 28 de Outubro de 1930 no Salão Jansen. (Sucena, 1992:197)

No seu percurso artístico, Ermelinda Vitória teve várias gravações de êxito, tendo inclusivé, também ingressado nos programas radiofónicos da Rádio Luso e Rádio Peninsular.

Morreu em Lisboa, na década de 80.

 

Fonte:

"Guitarra de Portugal”, 27 de Setembro de 1930

“Guitarra de Portugal”, 18 de Outubro de 1930

 

Cervejaria Jansen, 1930