Conheça melhor:
Deonilde Gouveia
(N. 1900 - M. agosto, 1947)Deonilde Gouveia nasce em Viana do Castelo e nos primeiros anos do século XX inicia a sua carreira artística optando, numa primeira fase, pelo teatro.
Durante este período, Deonilde trabalhou em diversas Companhias Artísticas nomeadamente a pertencente a Armando Vasconcelos com as quais percorreu todo o território nacional e quase todos os estados do Brasil, estreando-se como cantadeira no Teatro República, no Rio de Janeiro, na opereta “Fado do Bairro Alto”. (cf. “Canção do Sul”, 1 de Setembro de 1936)
Já de regresso a Portugal, será na década de 30 que Deonilde assistirá a uma maior dinâmica no seu percurso artístico e, após a sua estreia no Solar da Alegria, a cantadeira afirmará: “Sendo das mais novas cantadeiras, já, felizmente cantei do Norte a Sul do país, porque além de vários contratos individuais, tenho, com os meus queridos colegas Joaquim de Campos e Júlio Proença, tomado parte em muitas festas de caridade e já têm sido algumas dezenas.” (cf. “Guitarra de Portugal”, 10 de Julho de 1930). À beneficência somam-se também as actuações em verbenas, casas de fados, festas de homenagem, teatros e em casas de particulares.
Numa postura pautada pela discrição, brio profissional e justeza, Deonilde Gouveia não se ilude com os elogios que a imprensa da época lhe dirige: “…uma das primeiras vedetas da nossa linda canção, porque as notas do fado, na sua garganta, saem cheias de melodia e sentimento a que alia uma dicção impecável. (…) A fadista de raça que nos comove até às lágrimas.” (Cf. “Guitarra de Portugal”, 10 de Julho de 1930).
Reflexo da estima e admiração não só por parte da imprensa mas também por parte dos seus colegas, ocorre no Salão Artístico de Fados em Outubro de 1930 uma festa de homenagem a Deonilde Gouveia, onde tomam parte nomes como Armandinho, Ercília Costa, Berta Cardoso, Alberto Costa, Júlio Proença, Manuel Cascais, entre outros. (cf. “Guitarra de Portugal”, 30 de Outubro de 1930)
Em Fevereiro de 1931, anuncia-se a reabertura de um dos mais emblemáticos espaços de fado, o Solar da Alegria, situado na Praça da Alegria que, sob a direcção de Deonilde Gouveia e Júlio Proença, abre portas com um novo elenco de artistas composto por Alberto Costa e Rosa Costa, a que se juntam Deonilde Gouveia e Júlio Proença. O acompanhamento fica a cargo de João Fernandes e Domingo Costa na guitarra portuguesa e Santos Moreira na viola. (cf. “Guitarra de Portugal”, 6 de Fevereiro de 1931).
É também neste período que se assinala a existência de diferentes grupos de artistas com o propósito comum de realizarem espectáculos e digressões. Rui Vieira Nery identifica para além da “Troupe Guitarra de Portugal” e do “Grupo Artístico Canção Nacional”, o “Grupo Artístico Propaganda do Fado” integrado por Deonilde Gouveia, Júlio Proença e Joaquim Campos. (cf. Nery (2004): 212). A par destas actuações, Deonilde soma ao seu percurso artístico digressões em Portugal continental e na Ilha da Madeira, noticiadas pelos jornais da época: "Do Funchal, aonde se encontra cumprindo um contracto artístico, escreve-nos a nossa amiga e querida cantadeira Deonilde Gouveia…” (cf. “Guitarra de Portugal”, 12 de Abril de 1934).
Em 1936 figura na capa da “Canção do Sul” que a destaca como uma das mais representativas figuras do meio artístico e para quem “Deonilde é uma grande cantadeira. Canta o fado e sente-o com uma alma de eleição. É uma fadista antiga e tem o seu público fiel…” (cf. “Canção do Sul”, 01 de Setembro de 1936).
Para além de excelente intérprete, Deonilde Gouveia figura também como autora de temas do seu repertório, a saber: “Portugal”, “Campinos” e “Tarde de Toiros”, entre outros registos. (cf. Machado (1937):81)
Em 1946 foi alvo de uma homenagem no Retiro dos Marialvas e após doloroso sofrimento faleceu em Agosto de 1947.
Fonte:
“Guitarra de Portugal”, 10 de Julho de 1930;
“Guitarra de Portugal”, 17 de Setembro de 1930;
“Guitarra de Portugal”, 6 de Fevereiro de 1931;
“Guitarra de Portugal”, 05 de Março de 1931;
“Canção do Sul”, 1 de Setembro de 1936;
“Guitarra de Portugal”; 01 de Fevereiro de 1946;
“Ecos de Portugal”, 01 de Setembro de 1947
Machado, A. Victor (1937), “Ídolos do Fado”, Lisboa, Tipografia Gonçalves