17 abril, 2019
Oficina de Construção de Guitarra
No dia 23 de abril de 2019 foi inaugurada a Oficina de Construção de Guitarra do Museu do Fado, que presta homenagem às duas grandes Escolas Tradicionais na Arte da Construção da Guitarra Portuguesa: a de Gilberto Grácio e a de Óscar Cardoso.
Espaços de construção, projeção de filmes, postos de consulta sobre guitarreiros e guitarristas, e ainda um espaço de venda de instrumentos e acessórios para a guitarra portuguesa integram a oferta desta Oficina.
O Curso de Construção de Guitarra inicia-se no ano lectivo de 2019/2020. Até lá, a Oficina apresentará uma programação de ateliers e workshops em torno das diferentes etapas de construção de uma guitarra portuguesa. É também possível ao público visitar a Oficina da Guitarra, mediante marcação prévia, através dos contactos do Museu do Fado.
SALVAGUARDA DO PATRIMÓNIO - PROGRAMA APROVADO PELA UNESCO
Integrando o programa estratégico da Candidatura do Fado à Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade aprovada pela UNESCO, a Oficina da Guitarra assume-se como polo de revitalização e salvaguarda desta herança patrimonial, promovendo a arte dos guitarreiros, a transmissão dos seus saberes às novas gerações, a sua interpretação, estudo e fruição pelo público em geral e pelo círculo de investigadores em particular.
A oferta educativa da Oficina privilegiará também a aprendizagem da História do Instrumento, assim como a formação especializada em torno dos elementos integrantes da guitarra portuguesa, com ateliers de construção de leques, entalhamento de volutas, conservação e restauro, entre muitos outros temas. O corpo docente será integrado por guitarreiros, violeiros, entalhadores, técnicos de conservação e restauro, músicos e investigadores.
Gilberto Grácio, Óscar Cardoso, Pedro Caldeira Cabral e Rita Marcelino (única mulher construtora de leques para guitarra portuguesa, filha de Fernando Silva, mestre Fanã) serão alguns dos formadores dos ateliers e workshops que a Oficina apresentará até setembro. Nestes ateliers serão abordadas as várias etapas da construção do instrumento, desde a seleção de madeiras, ferramentas e equipamentos técnicos, a modelação das ilhargas, a experimentação da ilharga na forma, a colocação no braço, colagem do tampo, afagamento, abertura de friso de embutidos, ensaio do encaixe do braço no corpo da guitarra, aplicação por colagem da madrepérola, desbaste do braço da guitarra, polimento, aplicação de escala e trastos, entalhamento da voluta, aplicação de leque, encordoamento e afinação, construção de unhas e palhetas, entre outros.
REGRESSA AO CENTRO HISTÓRICO DE LISBOA UM DOS OFÍCIOS MAIS TRADICIONAIS DA CULTURA PORTUGUESA
Na história da construção da guitarra portuguesa, inteiramente artesanal, distinguem-se duas famílias de guitarreiros que aperfeiçoaram e transmitiram a sua arte ao longo de sucessivas gerações.
Uma inicia-se com João Pedro Grácio, avô de Gilberto Grácio e patriarca de uma grande família de guitarreiros (cinco dos seus 12 filhos foram construtores). João Pedro Grácio fundou a sua oficina na Rua da Boavista, em 1890 e mais tarde, em 1922, no Largo de São Martinho, ao Limoeiro, em Alfama. O diálogo permanente entre esta oficina e os guitarristas que a preferiram, como Armando Freire, Artur Paredes, Carlos Paredes ou José Nunes, foi fundamental à evolução técnica e acústica do instrumento.
Outra inicia-se com Álvaro da Silveira e é continuada por Manuel Cardoso, pai de Óscar Cardoso. Álvaro da Silveira, natural do Funchal, aprendeu esta arte na sua terra natal com o construtor de violinos Augusto M. da Costa. Mudou-se para Lisboa aos 20 anos, especializou-se no fabrico da guitarra e assumiu as funções de encarregado da Oficina da Rua da Boavista. Mais tarde, estabeleceu-se por conta própria na Travessa dos Inglesinhos no Bairro Alto, até se mudar, já nos anos 60 para a sua casa-oficina no Beco de São Lázaro.
A Oficina da Guitarra do Museu do Fado consubstancia também o regresso deste ofício - um dos mais tradicionais da cultura portuguesa - ao centro histórico da capital. Se os antecessores de Gilberto Grácio e Óscar Cardoso abriram oficinas no centro de Lisboa na primeira metade do século XX, agora, em pleno século XXI, o ensino desta arte regressa ao centro histórico da capital, para aqui residir em permanência.