19 abril, 2012

O Julgamento do Chico do Cachené

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O JULGAMENTO DO CHICO DO CACHENÉ

Auto poético fadista de João Linhares Barbosa

Em 1945, Linhares Barbosa escreveu um «auto poético fadista» intitulado «O Julgamento do Chico do Cachené». Tudo começou quando um grupo de amigos – dos quais faziam parte o artista plástico e boémio D. Tomás José de Melo (Tom) e Linhares Barbosa – saiu da Adega Machado após um animado almoço. Um ferro-velho ambulante expunha num carrinho várias bugigangas, onde Tom divisou um boneco de madeira, nu, com cerca de meio-metro de altura. Comprou-o, sob as piadas dos amigos. Dias depois, apareceu na Adega Machado com o boneco vestido à faia, de jaqueta, calça de boca-de-sino, bota afiambrada, chapéu à banda e cache-nez de seda ao pescoço. Armando Machado pô-lo numa peanha em local bem visível e mestre Linhares baptizou-o de Chico do Cachené.

Mais uns tempos passados e o mesmo grupo divertia-se em fazer comentários ao Chico, uns acusando-o de ser um estroina, bêbado, sem ocupação senão a de estar na sua peanha a ouvir fados, vivendo à custa de uma mulher (a Micas); outros defendendo-o, alegando que tinha sido um desgosto de amor, ele nem era mau rapaz… 

Então, Linhares Barbosa propôs fazer-se-lhe um julgamento em forma, para o que escreveria os depoimentos da acusação, da defesa, a sentença, tudo em letras de fado, a fim de ser cantado ali mesmo. Estreou-se o auto em 28 de Julho de 1945, às 15h00, na Adega Machado. Em 25 de Maio de 1948 foi de novo levado à cena, no Café Luso. 

Depois, caiu no esquecimento; as letras perderam-se, havendo apenas excertos publicados na Guitarra de Portugal, n.º 5, de 15 de Agosto e 1945.

Encontradas, na íntegra, nos arquivos de Francisco Mendes, no âmbito das atividades da Associação Portuguesa de Amigos do Fado (APAF) foi o auto encenado por José Manuel Osório em 1999, sendo representado na mesma Adega Machado onde nascera, na Adega Mesquita, A Severa, Café Luso, Clube de Fado, O Faia, O Timpanas, Restaurante Senhor Vinho, Sociedade A Voz do Operário e Taverna do Embuçado. 

No ano seguinte, subiu à cena no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém.

Vai agora ser reposto no Teatro Ibérico, Rua de Xabregas, 54, em Lisboa, com estreia a 19 de Abril às 21h00. Continuará em cena aos domingos às 17h00.

Preços: 10,00€ e 7,50€ (para estudantes / terceira idade.)