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Maria do Carmo Torres

Maria do Carmo Torres nasceu na Fuzeta, Algarve, de onde saiu ainda bebé para fixar residência em Setúbal, com os pais. Nesta cidade, trabalhou numa fábrica de conservas e foi durante esse período que começou a cantar o fado como amadora.

Aos 19 anos estreia-se a cantar Fado numa revista de Manuel Envia, no Salão Recreio do Povo, em Setúbal, sendo de imediato convidada para participar numa outra, agora no Casino de Setúbal. Foi uma estreia muito aplaudida e que se voltou a repetir numa nova revista, em cena no Casino do Estoril.

Mais tarde instala-se em Lisboa, após a morte do seu filho, com 16 anos, mas também disposta a seguir uma carreira artística no fado, seu único consolo: "Sinto pelo fado a maior das paixões. Coíbam-me de tudo, mas deixem-me expandir a dor que sinto pela perda do meu filho. Deixem-me cantar o fado; alivio muito quando canto uma sextilha de autoria de M. Soares:

«Trago estampada no rosto
A dor de mãe e desgosto
Dum filho que se matou.
Que era toda a minha esperança,
Afinal ainda criança
Na morte um beijo encontrou.»

Em Lisboa torna-se empregada de balcão no Café-Restaurante “Sul-América”. Um dia ao substituir a cantadeira Maria Virgínia, e sai-se tão bem, que o director Mendes Leal e Alfredo Madeira proporcionam-lhe a aquisição do cartão profissional.

Maria do Carmo Torres actuou em todos os retiros dos arredores de Lisboa, em várias esperas de touros, algumas no Campo Pequeno, em diversos teatros, nomeadamente com presença nas peças “Adeus, Artur!” e “O Chico do Intendente”, e em festas de caridade. Destaque também para sua passagem no “Retiro da Severa”, “Solar da Alegria”, “Café Luso” e “Café Mondego”, locais onde apresentou um repertório essencialmente castiço.

Fez parte da Embaixada do Fado - dirigida por Alberto Reis, que se deslocou ao Brasil e à Argentina, tendo partido em Agosto de 1934. No elenco destacam-se: Maria do Carmo, Branca Saldanha, Filipe Pinto, Joaquim Pimentel, Armandinho (guitarra) e Santos Moreira (viola) que actuaram no Rio de Janeiro, Santos, S. Paulo, Campinas e Belo Horizonte, Buenos Aires, Araracuára e Montevideo.

Tendo-se tornado uma cantadeira muito requisitada, Maria do Carmo Torres actuou também em casas particulares, como a da Condessa de Ficalho, entre muitas outras.

Integrou o elenco de homenagem ao poeta João da Mata, realizada no Salão Jansen (1931) e colaborou na homenagem a Ângela Pinto, no “Retiro da Severa” (1938).

Em finais da década de 40, Maria do Carmo Torres retira-se da vida artística, "Afim de repousar, parte por estes dias para o Norte, a popular cantadeira Maria do Carmo Torres" (cf. Guitarra de Portugal de 1 Agosto 1946), vindo a falecer na década de 50.

A Câmara Municipal de Lisboa, com o propósito de perpetuar a memória da fadista, atribuiu o seu nome a uma rua de Lisboa, situada no Bairro da Cruz Vermelha, na Freguesia do Lumiar.

 

Fonte:

“Canção do Sul”, 01 de Agosto de 1931;

“Guitarra de Portugal”, 21 de Abril de 1934;

“Guitarra de Portugal” de 21 de Agosto de 1934;

“Canção do Sul”, 01 Junho de 1936;

“Guitarra de Portugal”, 01 de Agosto de 1946;

Machado, A. Victor (1937), “Ídolos do Fado”, Lisboa, Tipografia Gonçalves;

“Maria do Carmo Torres”, Comissão de Toponímia, CML, 2001.

 

Cinema Palatino, 1941