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Gilberto Grácio

(N. 12 maio, 1936 - M. 1 novembro, 2021)

Gilberto Marques Grácio nasceu em 12 de Maio de 1936, em Lisboa, na Freguesia da Encarnação e, com apenas 12 anos, na oficina no Cacém, começou a construir instrumentos na oficina do pai, dando assim continuidade a uma actividade iniciada pelo seu avô.

Aos 14 anos começou ele próprio a comprar os materiais para a oficina do pai. Gilberto Grácio afiava as ferramentas e ia aprendendo a conhecer as madeiras, material primordial na construção de instrumentos de corda. Com 17 anos construiu totalmente o seu primeiro instrumento, uma viola. Já na infância Gilberto Grácio gostava de manusear madeiras e com os restos de tampos fazia alguns pequenos trabalhos, contudo estes eram realizados às escondidas do seu pai uma vez que "assaltava" a caixa de ferramentas sem o seu consentimento.

Aprendeu música, tocava viola e bandolim, mas foi dando preferência à sua afinação.

Apaixonou-se pelo Fado com apenas 6 anos na “Adega do Ramalho”, casa típica situada no Cacém, onde tocava o Conde de Sabrosa, esposo de D. Maria Teresa de Noronha.

Verdadeiro autodidacta, e sem nunca ter consultado livros sobre a construção de guitarras, das suas mãos saíam guitarras e violas de atestada qualidade sonora, perfeitos e de beleza incomparável, adquiridas por quase todos os músicos profissionais, casos de Artur e Carlos Paredes, António Chaínho, até Jimmy Page, que lhe solicitou a construção de uma guitarra portuguesa, entre inúmeros outros músicos. Segundo o construtor, uma guitarra portuguesa demora cerca de 180 horas de trabalho a ser construída, e o tempo de construção de uma viola é sensivelmente o mesmo. Gilberto Grácio contava com mais de um milhar de instrumentos construídos pelas suas mãos.

Colaborou e trabalhou para várias orquestras ligeiras e para músicos como Rui Veloso, Fausto, Paco Bandeira, Paulo de Carvalho, Sérgio Godinho, entre outros, e neste seu ofício chegou a construir duas guitarras eléctricas.

Entre 1997 e 2000 leccionou na Oficina Romani, organizada pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional, uma escola preparada para alunos de etnia cigana.

Em 15 de Setembro de 2003 abriu uma oficina de formação, através do Instituto de Emprego e Formação Profissional e da Câmara Municipal de Oeiras, com instalações pertencentes à autarquia, no Alto da Loba, em Paço de Arcos.

De modo a não deixar morrer a tradição, Gilberto Grácio dedicava-se a transmitir a sua arte através da formação de alunos, futuros construtores de instrumentos musicais. Para o construtor era factor-chave "ter sensibilidade e arte, além de muita vontade". "Isto não é propriamente marcenaria ou carpintaria", dizia. Assim, no sentido de aperfeiçoar a arte, tinha o método de ensinar primeiro aos seus alunos a construção da viola, tida como mais simples, e depois então a guitarra portuguesa.

Tantos anos de dedicação evidenciam-se no timbre e sonoridade especial que as guitarras Grácio transmitem, reconhecidas por todos os grandes nomes do Fado, instrumentistas ou intérpretes.

Foi várias vezes reconhecido pelo seu trabalho, tendo recebido condecorações da Câmara Municipal de Sintra, entregues pela Drª. Edite Estrela e pela Junta de Freguesia do Cacém.

Em 5 de Outubro de 2002 recebeu a Comenda do Presidente da República Jorge Sampaio.

Em 2012, a Câmara Municipal de Lisboa entrega-lhe a Medalha de Mérito Municipal, grau Ouro. 

Em 2019, o Museu do Fado presta-lhe homenagem na inauguração da Oficina de Construção da Guitarra Portuguesa, com a atribuição de uma sala que lhe é dedicada. 

Faleceu a 1 de Novembro de 2021. 

 

Fonte:

Caldeira Cabral, Pedro (1999) "A Guitarra Portuguesa", Col. "Um Século de Fado", Lisboa, Ediclube;

"30 Dias", Roteiro da Câmara Municipal de Oeiras, Janeiro de 2004;

Museu do Fado - Entrevista realizada em 11 Janeiro de 2007.

 

 

 

 

João Pedro Grácio (avô de Gilberto Grácio), s/d.

João Pedro Grácio Junior (pai de Gilberto Grácio), s/d.

Gilberto Grácio, s/d.