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António dos Santos

(N. 14 março, 1919 - M. 18 setembro, 1993)

António dos Santos Caio Castanheira, que adoptou o nome artístico de António dos Santos, nasceu no Hospital de São José, freguesia do Socorro, a 14 de Março de 1919.

Filho de Joaquim Castanheira e de Gertrudes Ana dos Santos, António dos Santos veio muito novo para Lisboa, onde viveu com a mãe e a avó materna na Rua 20 de Abril (actual Rua de São Lázaro), 41-3º Dto. Os seus pais voltaram a juntar-se duas décadas mais tarde, decidindo nessa altura casar-se.

Inicia a sua carreira de fadista com 15 anos, exibindo-se em diversos espaços como amador. Perto de completar 19 anos decide-se pela profissionalização. Faz a sua estreia no dia 3 de Março de 1938, no Café Mondego, em Lisboa. A sua carteira profissional está datada de 2 dias depois.

António dos Santos casa com Julieta Rebelo Martins a 12 de Agosto de 1943. O casal tem cinco filhos. Para fazer face às despesas familiares, e paralelamente à actividade fadista, António dos Santos é marinheiro da Marinha Mercante desde os seus 25 anos de idade, viajando muito e por longas temporadas. Chegou, por exemplo, a permanecer dois anos nos Estados Unidos da América, mas nunca deixou de cantar.

É no bairro de Alfama que toda a sua vida se desenvolve, vive durante vários anos na Travessa S. João da Praça, mas acaba por ser no Beco da Bicha, nº 9, 1º andar que estabelece a sua residência definitiva.

Em Setembro de 1945, o jornal “Guitarra de Portugal” noticia que o fadista humorístico António dos Santos integrou o grupo de artistas contratados do Retiro dos Marialvas. De facto, António dos Santos tem, durante mais de 20 anos, uma nítida preferência e apetência pela interpretação do fado jocoso. Tendo mesmo gravado na editora Alvorada um disco que regista este estilo de fado humorístico. Sob o título “Um Congresso de Gatos”, este EP continha os temas: “A moda traz cada coisa”, “Boa resolução”, o tema título do disco e “Um macho inteligente”.

Em meados da década de 1950 abre o restaurante Solar do António dos Santos, conhecido por todos pelo Cantinho do António. Situado no Beco do Azinhal em Alfama foi espaço de convívio e interpretação de fados ao longo de duas décadas. O Cantinho do António atinge grande êxito quer enquanto restaurante, estando a cozinha a cargo da sua mulher, quer como casa de fados, por ali passando grandes nomes da vida social e artística portuguesa. Neste seu espaço, António dos Santos para além de cantar o Fado acompanhava-se a si próprio à viola.

É também a partir desta altura que o fadista abandona o fado humorístico e começa desenvolver um outro estilo de interpretação do Fado, de certa forma aproximando-se da balada de Coimbra, ficando mesmo associado ao epíteto de "Baladeiro de Alfama", fama que acresce em resultado da sua participação no programa da RTP “Zip-Zip”, em finais da década de 60, um programa da autoria de Carlos Cruz, Raul Solnado e Fialho Gouveia, gravado no Teatro Vilarett, em Lisboa.

António dos Santos trespassa o seu “cantinho” após a revolução de 25 de Abril de 1974, em consequência da quebra de públicos nas casas de fado que ocorreu nessa época.

Apesar de ter sido várias vezes convidado a deslocar-se em digressões fora de Portugal, sobretudo ao Brasil, António dos Santos nunca aceitou os convites por ter medo de andar de avião.

O fadista não gravou muitos discos. Como já referimos o seu primeiro EP apresentava a veia humorística que caracterizou as décadas iniciais da sua carreira. Posteriormente foram editados alguns LPs como “Minha Alma de Amor Sedenta”, em 1972, e “Saudade”, em 1986, ambos pela Valentim de Carvalho. Lamentavelmente e apesar de granjear grande admiração entre os seus pares, são ainda menos numerosas as reedições em cd, registando-se apenas uma colectânea, “O Melhor de António dos Santos”, editada pela Valentim de Carvalho em 1992, a reedição do seu disco “Minha Alma de Amor Sedenta” em 2007, para além de algumas faixas em antologias do fado.

Autor de poemas e músicas, António dos Santos tem registados 56 títulos na Sociedade Portuguesa de Autores, maioritariamente referentes a composições musicais. Alguns dos seus temas mais populares são “Gaivotas em Terra” e “Partir é Morrer um Pouco”, ambos com poemas de Mascarenhas Barreto e músicas da sua própria autoria. Este último fado foi celebrizado posteriormente por Carlos do Carmo no seu disco “Canoas do Tejo”. Outro exemplo da popularidade é o tema “Minha Alma de Amor Sedenta”, que dá título a um dos seus discos, também interpretado e gravado por Beatriz da Conceição e, mais recentemente, em 1999, por Mísia.

António dos Santos faleceu no dia 18 de Setembro de 1993 quando contava 74 anos de idade, mas permaneceu o seu lugar na história do fado como referência num estilo próprio de interpretação, bem como compositor revisitado em trabalhos discográficos de diversos fadistas.

 

Fonte:

“Canção do Sul”, 16 de Dezembro de 1938;

“Guitarra de Portugal”, 15 de Setembro de 1945;

“Guitarra de Portugal”, 25 de Dezembro de 1945.

António dos Santos, s/d.

António dos Santos, António Bessa, Maria da Conceição, Francisco Carvalhinho, Filipe Pinto, Teresa Nunes e NIcolau Neves Mãe preta, s/d.

António dos Santos Solar do António dos Santos, s/d.

António dos Santos Solar do António dos Santos, s/d.

  • Minha Alma de Amor Sedenta António dos Santos (António dos Santos, António Barreto / António dos Santos)

Cartão Caixa de Previdência | Social Welfare Identity Card de António dos Santos, 1951

Cartão Caixa de Previdência | Social Welfare Identity Card de António dos Santos, 1951