"Fados" De Carlos Saura | 10 anos

20 maio, 2017 a 8 outubro, 2017

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Encontro-me de novo frente a frente a esta união mágica entre a música e a câmara cinematográfica, que tanto me fascina e que no musical alcança a sua máxima expressão. 

O cinema musical pode adoptar várias formas, mas considero que o seu estado mais puro é aquele em que não se submete a um argumento de tipo narrativo. 

Neste caso, as histórias que se vão contar já se encontram nos próprios Fados.

Carlos Saura, 2007

 

Depois de Flamenco (1995) e Tango (1998), Carlos Saura adentrava-se pelos mistérios do Fado no ano de 2007, encerrando assim uma viagem pela história da música das cidades costeiras do espaço ibero-americano. Canções de ida e volta, como sempre gostou de chamar-lhes. 

Tendo Lisboa como cenário, o filme explorava o diálogo cúmplice entre a música e a cidade, traçando a evolução do Fado desde as origens afro-brasileiras às novas gerações da actualidade. 

Carlos Saura chamou-lhe FADOS porque entendeu que, ao contrário dos seus congéneres espanhol e argentino, o género português encerrava múltiplas identidades.

 

Gostos trazidos da infância, a música e a dança pontuaram desde cedo a filmografia de Carlos Saura, em filmes como Bodas de Sangue (1981), Carmen (1983), El Amor Brujo (1986), Sevilhanas (1991), Flamenco (1995), Tango (1997), Salomé (2002), Iberia (2005), Fados (2007), Don Giovanni (2009), Flamenco, Flamenco (2010) ou Jota (2016). Nos seus filmes, Saura procura ir de encontro ao velho sonho dos alvores da cinematografia: preservar, para a posteridade, a performance dos grandes músicos. Com uma atitude de profundo respeito pela herança patrimonial do passado, o olhar de Saura parece documentar e conservar para memória futura, a arte dos grandes intérpretes da música popular, palco privilegiado do efémero. 

Dez anos volvidos sobre a estreia do filme, a exposição FADOS pretende revisitar a viagem do realizador Carlos Saura pelo universo do Fado, através dos seus fotosaurios (fotografias pintadas) e story boards, desenhos e anotações, pinturas, guiões e adereços que testemunharam e acompanharam a construção do seu olhar sobre a canção urbana de Lisboa. 

Caminho multidisciplinar, o mosaico desta viagem estrutura-se a partir das várias artes, em exposição, segundo a premissa do realizador: o desenho, a fotografia, a escrita, a música e o cinema estão intimamente relacionados, tão relacionados dentro de mim que não poderia prescindir de nenhum1.  Revisitação do filme, a exposição FADOS ilustra ainda os bastidores onde alguns dos expoentes vivos do género - Carlos do Carmo, Ricardo Ribeiro, Mariza ou Carminho, entre outros - nos dão o seu testemunho sobre este encontro de culturas que há séculos convivem na nossa península, compartilhando geografias e influências. 

 

  1Carlos Saura, “Sobre mis dibujos”, Las fotografias pintadas de Carlos Saura, El Gran Caíd, Madrid, 2005

 

Foto: José Frade | Museu do Fado

Foto: José Frade | Museu do Fado

Foto: José Frade | Museu do Fado

Foto: José Frade | Museu do Fado

Foto: José Frade | Museu do Fado

Foto: José Frade | Museu do Fado

Foto: José Frade | Museu do Fado

Foto: José Frade | Museu do Fado

Foto: José Frade | Museu do Fado

Foto: José Frade | Museu do Fado

Foto: José Frade | Museu do Fado

Foto: José Frade | Museu do Fado