Miguel Xavier

Miguel Xavier

12 Dez, 19h
Museu do Fado . Auditório

Entrada livre, sujeita à lotação da sala.
Reservas: comunicacao@museudofado.pt ou 21 882 34 70. 



Nasceu em 1995, em Guimarães. O Fado chegou à sua vida muito cedo, pela mão da avó paterna que lhe decorou a infância com as gravações das referências maiores do universo fadista. Aos 14 anos canta pela primeira vez acompanhado à guitarra e à viola. Em 2015 vence o Concurso de Fado da União de Freguesias de Lordelo do Ouro e Massarelos, no Porto. Em 2017 apresenta-se na Casa da Música, num concerto a solo integrado no ciclo "Novos Valores do Fado". No mesmo ano participa no Festival Caixa Alfama, com uma apresentação em nome próprio. 2018 é o ano de lançamento do seu disco de estreia: Miguel Xavier.

Dizem-me que, de muito pequenino, se esticava na cama ao lado da avó, um transístor sintonizado para uma rádio fado, pousado entre os dois. O Miguel Xavier aprendia, literalmente, todos os fados. Quando o Miguel Amaral me levou a ouvi-lo, ele teria 19 anos. Fiquei tão siderado como quando ouvi o Camané então mais ou menos da mesma idade. Haverá quem 'nasça para o fado' ou quem por lá viva, apanhando-lhe jeitos e tiques, mas o que reacende a identificação de uma voz que só pode e só deve ser do Fado é aquela flexibilidade melódica e aquele pouco de ar que mal se sente no som, mas que marca a diferença entre os melismas do Fado, seus estilos e variações, e os do Cante Flamenco, por exemplo. Muito boas vozes não conseguem nunca produzir a diferença que este som tem.
Miguel Xavier canta quase hirto, hierático, concentrado, sem gestos nem jeitos nem sinais de legitimação marialva, bairrista ou fadisteira. É apenas um músico integral. Nem fusões, nem infusões, nem vícios. Canta maravilhosamente e está só, por dentro daquilo que canta. Basta comparar o trecho de Alexandre O’Neill / Filipe Teixeira (produzido na melhor tradição daquele fado que Amália literou e revolucionou) com o clássico “Velhinho Fado Menor” (com versos da discreta Maria Manuel Cid) para confirmar o seu profundo conhecimento e autenticidade. São coisas que fazem do Fado a sina de alguns. São esses os poucos que cantem o que cantem, cantam sempre de algum modo Fado, ou que quando cantam Fado o exponenciam e elevam.
À volta de Miguel Xavier está uma espécie de 'família' mais ou menos local que, sob a liderança de Miguel Amaral, se desdobra em escritores de fados de primeira água: Mário Laginha, Luís Figueiredo, Filipe Teixeira, André Teixeira e Marco Oliveira por exemplo. É isso que ajuda a fazer do disco de Miguel Xavier um dos mais belos discos de Fado dos últimos tempos.
A criança, nas suas sestas com a avó, nunca sonhou ter uma missão. Cresceu apenas para aquele lugar suave e ético que é a Arte.     

Ricardo Pais