A Uma Voz | Gil do Carmo


A Uma Voz
Gil do Carmo apresenta-se em concerto no Museu do Fado. 
No dia 6 de Dezembro de 2012, pelas 21h30, o cantor conta-nos quem é.. 
Num concerto intimista, interpreta pela primeira vez alguns dos temas que darão corpo ao próximo álbum. 
Mulher de Negro, Madres de Goa ou Na Maré de Ti são o fruto das miscigenações da sua música, que Gil do Carmo traz ao Museu do Fado.

Gil do Carmo
Nascido numa família para quem a música foi raiz e, mais do que profissão, um modo de ser, Gil do Carmo fez o seu percurso associando elementos da tradição menos convencional ou conformada e um sentido progressivo de autonomia estética. Inovando, exprimindo uma procura desse lugar em que a linguagem do fado e as emergências do jazz ou do rock, para referenciar três polarizações significativas entre várias, se encontram e interpenetram para um resultado muito pessoal.
Tal só foi possível pela experiência adquirida desde bem cedo. Com a avó, Lucília do Carmo, e o pai, Carlos do Carmo, intérpretes cimeiros do fado, canção urbana que o mundo conhece e reconhece. Com Maria Judite, a mãe, âncora também de todo um caminho que, a partir das escolas que frequentou e nas quais deu os primeiros passos no teatro ou na música, esta na companhia de colegas, amigos e artistas tão próximos como Feijão e Isaque Pinheiro. Com a vivência de uma aprendizagem fundamental nos Estados Unidos, para onde se mudou aos 19 anos, nomeadamente em Los Angeles (Musiciens College of Music) e Boston (Berklee College of Music).
Em verto sentido, era outro ao regressar a Lisboa em 1995. Cheio de conhecimentos novos e exigentes, entusiasmo, sonhos, planos, consciência das dificuldades e do rigor de uma carreira que não quis nunca mergulhada no facilismo. Participou em espectáculos de televisão. No dia que se seguiu a um deles, após actuar como convidado do pai, recebeu o telefonema que daria início ao seu trabalho de autor com dimensão pública. Tozé Brito, então director da BMG Portugal, criava as condições para a gravação dos discos “Mil Histórias” (1997) e “Nus Teus Olhos (1999). Compositor, letrista e cantor, obteve o melhor incentivo da crítica e de um número crescente de admiradores. Os seus temas, elaborando uma gramática fusional na organização dos sons, ritmos, harmonias, palavras e procedimentos da voz, procuravam uma relação dinâmica com a cidade e o tempo, a eloquência dos contrastes que o caracterizam, do esplendor amoroso à deceptividade diante das paisagens humanas e sociais.
Mas é com “Sisal” (2008), concebido e realizado ao longo de oito anos, período em que se tornou proprietário do Speakeasy e não parou de reflectir, ensaiar soluções, reorientar trajectos, que confirma na plenitude um destino inconfundível entre os que se afirmam numa linhagem que renova a música portuguesa do presente. Da arquitectura formal e versificatória à ousadia sustentada das orquestrações e dos arranjos, da projecção vocal à depuração tímbrica, do propósito comunicacional às livres notas no livre espaço da criação, Gil do Carmo propõe-nos canções que envolvem e permanecem. Pelo mérito que generalizadamente se aplaude, todo ele energia, consistência e claridade. Pela certeza de que são já mais e mais aqueles que o aguardam no futuro que, afinal, começa.
José Manuel Mendes