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Maria Alice

(N. 1 setembro, 1904 - M. 13 fevereiro, 1996)

Glória Mendes, que adoptou o nome artístico de Maria Alice, nasceu em Paião, a 1 de Setembro de 1904, embora gostasse de se dizer natural da Figueira da Foz. De facto, seus pais sempre viveram naquela cidade e haviam-se mudado pouco tempo antes da criança nascer.

Filha de José Leal e de Maria José Mendes, a pequena Glória não foi registada com o sobrenome do pai, o que muito a desgostava, e que a levou a "adoptar"o apelido Leal nas assinaturas correntes.

Aos 14 anos sai de casa e vem para Lisboa na companhia daquele que viria a ser o pai dos seus dois filhos (António, 1921 e Graciete, 1923), o advogado Bernardino Morais.

Pela mão de Adelina Fernandes, e apadrinhada por Maria do Carmo, Glória entra no meio fadista. Será Adelina quem a levará um dia, em 1928, ao “Ferro de Engomar” e Glória, que já cantava por gosto, em casa, experimenta fazê-lo em público, obtendo grande sucesso.

Adoptou então, o nome artístico de Maria Alice e nunca mais lhe faltou trabalho, como cantadeira, quer em Portugal, quer no Brasil, onde esteve por duas vezes, uma delas durante cinco meses e obteve os maiores êxitos.

Cantou nos retiros “Ferro de Engomar” (onde se estreou em 1928), “Charquinho”, “Caliça” e “Pedralvas”, em várias festas de beneficência e em esperas de touros. Em 1931 cantou na opereta «História do Fado», de Avelino de Sousa. Com Leonor Fialho, apresentou-se no Coliseu de Coimbra, no Domingo, dia 4 de Outubro de 1931, acompanhadas por Armando e José Marques.

Em 1932, num concurso realizado no Rio de Janeiro, foi-lhe atribuído o título de"A Melhor Cantadeira (que por acaso se chamava Maria Alice...).

Em 1934 deslocou-se ao Brasil integrando o elenco da Companhia de José Loureiro, de que faziam parte Estevão Amarante, Adelina Abranches, Maria Sampaio e Lina Demoel, bem como o cantador Manuel Cascais, o guitarrista Casimiro Ramos e o violista Armando Silva.

Em 1943 formou um agrupamento artístico, a Troupe Music-Hall, de que faziam parte também Rui Metelo, Octávio Bramão, Mário Fernandes e Dora Vieira, com o qual fez bastantes espectáculos, tendo esse grupo, nesse mesmo ano, embarcado no navio Quanza com destino à África Portuguesa. (Cf. Canção do Sul, 16 Agosto, 1943) Certa vez, no Rio de Janeiro, conjuntamente com Berta Cardoso e Ercília Costa, entrou num concurso do "Mais Lindo Sorriso", com o público directamente a votar, alcançando o 1º prémio. Pode dizer-se que alcançou a glória no meio artístico português.

Conheceu Valentim de Carvalho vindo com ele a casar na década de quarenta. Adopta então o apelido do marido e retira-se por completo dos meandros do Fado, passando a viver apenas para a família, na sua casa, no Restelo. Quando o marido morre, instala-se no Hotel Internacional, onde permanece largos anos. Os últimos anos, um pouco mais difíceis e dependentes, passa-os no Lar Orquídea Vermelha, na freguesia do Lumiar.

A Câmara Municipal de Lisboa, com o propósito de perpetuar a memória da fadista, atribuiu o seu nome a uma rua de Lisboa, situada no Bairro da Cruz. Faleceu com 92 anos, no dia 13 de Fevereiro de 1996.

Armando Neves fez-lhe a letra que ela cantava no "Fado Margarida":

«Tanto na vida já tenho cantado

o fado que o destino me predice

que o povo português que adora o Fado

me chama com razão Maria Alice.

 

Este nome é a Estrela do meu norte:

Maria Alice sou p'ra toda a gente,

Maria para a vida e para a morte

Alice para o Fado eternamente.

 

Maria Alice é um nome que, afinal,

contém, não sei que mágica beleza!

Maria da tristeza em Portugal,

Alice da saudade portuguesa.

 

Maria Alice canta, ri e chora

o fado tão antigo e sempre novo;

e se o povo a Maria Alice adora

também Maria Alice adora o povo !»

 

Fonte:

Cf. João Brás, in Canção do Sul, 16 Fevereiro de 1936

“Canção do Sul”, Canção do Sul, 16 Agosto de 1943;

Sucena, Eduardo (1992) “Lisboa o Fado e os Fadistas”, Lisboa, Vega.

 

Maria Alice

Alfredo Marceneiro, Lucília do Carmo, Maria Alice Restaurante O Faia

  • Fado Perseguição Maria Alice (Avelino de Sousa / Carlos da Maia)

Cervejaria Jansen, 1930

Coliseu de Coimbra, 1931