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José Manuel Osório

(N. 13 maio, 1947 - M. 11 agosto, 2011)

José Manuel Osório nasce em Leopoldoville, (actual Kinshasa) na República do Zaire (então Congo Belga), no dia 13 de Maio de 1947.

Aos 5 anos ouve pela primeira vez um disco de Fado, interpretado por Lucília do Carmo, contudo, é algo irrelevante na sua vivência quotidiana.

Aos 10 anos vem para Portugal e estuda nos melhores colégios de Lisboa. As suas preferências musicais começam a delinear-se para a música clássica e, aos 12 anos, ingressa no Conservatório de Música de Lisboa, tendo terminado aos 15 o Curso Básico e Superior de solfejo.

Começa então a aprender piano, curso que completará passados 9 anos, com louvor e distinção. Logo de seguida, inicia o Curso Superior de Teatro do Conservatório Nacional. Quando termina o liceu, ingressa na Companhia de Teatro Estúdio de Lisboa, dirigida por Luzia Maria Martins, onde permanece 6 anos.

Ingressa na Faculdade de Direito, (curso que não chegará a fazer), onde funda o Grupo Independente de Teatro da Faculdade de Direito. Dirige este grupo e encena "O Homúnculo", de Natália Correia. Foi o primeiro texto desta autora a ser representado em público. Neste período conhece Vasco de Lima Couto que lhe escreve um primeiro texto para ser cantado em Fado.

Começa a frequentar os lugares de Fado, em Cascais, e como o próprio afirma em entrevista "apanhei o comboio ali". È no "Estribo", no "Cartola", no "Galito", e no "Arreda", que José Manuel Osório dá os primeiros passos no género, numa perspectiva de amador. Contacta alguns dos nomes mais carismáticos na época, Alfredo Marceneiro, Maria Teresa de Noronha, Carlos Duarte, João Braga, José Pracana, Chico Pessoa, João Ferreira-Rosa, entre outros. Conhece igualmente José Carlos Ary dos Santos que lhe escreve o primeiro poema para ser cantado. Da modificação dum soneto incluído no livro "A Liturgia do Sangue" resulta um decassílabo - "Desespero".

Estes lugares de Fado são, na opinião de José Manuel Osório, “espaços de alguma revolta em relação às Casas de Fado que proliferavam nos bairros históricos de Lisboa, e que transformavam o prazer de cantar numa obrigação.”

Estamos em 1968, e Osório grava o primeiro disco. Do repertório desse disco constam poemas de José Carlos Ary dos Santos, Vasco de Lima Couto, Manuel Alegre, Mário de Sá Carneiro, António Botto, João Fezas Vital, Lídia Neto Jorge, António Aleixo e Maria Helena Reis. No ano seguinte, 1969 grava o segundo disco e recebe o Prémio da Imprensa para o Melhor Disco do Ano.

Em 1970 ganha o Prémio da Imprensa para melhor fadista mas é impedido de cantar no palco do Coliseu, impedimento esse determinado pela PIDE, através de um ofício enviado à Casa da Imprensa.

José Manuel Osório vive um período conturbado, com a proibição da venda do seu disco de Fado, resultado de uma esquerda preconceituosa e que não aceitava as letras das suas interpretações.

Parte para Paris (1668) e assiste ao «Maio de 68». Trabalha num restaurante onde se cantava Fado e conhece José Mário Branco, Sérgio Godinho e Luís Cília, entre muitas outras personalidades. È por essa ocasião que Manuel Correia escreve lindíssimos textos para serem cantados em Fado e que seriam gravados após o 25 de Abril de 1974.

Foi durante os anos 60/70 um grande dinamizador no teatro amador, levando à cena dezenas de espectáculos, quer na representação como na encenação, e que se apresentavam essencialmente nas diversas colectividades de Lisboa. Conquista o 1º Prémio do Festival de Teatro Amador (APTA) com o Grupo Oficina de Teatro de Amadores em Alfama, com o texto "Soldados" de Carlos Reyes.

O quarto disco, já para a etiqueta Orfeu, inclui textos de Fernando Pessoa, Manuel Alegre, António Aleixo, Francisco Viana, o poeta popular Martinho da Rita Bexiga, António Gedeão, Alda Lara, entre outros. Nas suas gravações colaboram músicos como António Chaínho, Arménio de Melo, Manuel Mendes, José Nunes, Raul Nery, José Fontes Rocha, Carlos Gonçalves, Pedro Caldeira Cabral, Pedro Leal, Manuel Martins, Joel Pina e Mestre Martinho D'Assunção.

Regressa definitivamente a Portugal em 1973 altura em que inicia pesquisa sobre Fado operário e Fado anarco-sindicalista para depois cantá-lo.

Depois de 25 de Abril de 1974 dá o seu contributo para a fundação de "A Barraca". Compõe música juntamente com Fernando Tordo e Samuel na peça "A Cidade Dourada" (A Barraca) e compõe e interpreta ao vivo a música "As Espingardas da Mãe Carrar", de B. Brecht, na Casa da Comédia, sob a direcção de João Lourenço.

Grava mais três discos de Fado, sempre com música de fados tradicionais, e encerra a sua carreira discográfica.

Passa nomeadamente nas casas de Fado amador de Cascais e Estoril, nunca encarando com muita seriedade a profissão de cantar o Fado.

Aproveitando todos os conhecimentos adquiridos como intérprete, inicia uma carreira como Produtor de Espectáculos e Manager de artistas, actividade que mantém até 1990.

José Manuel Osório esteve também ligado à organização da Festa do Avante, no apoio directo à criação de um espaço para o Fado, o «Retiro do Fado».

Por razões de saúde, vê-se obrigado a abandonar a actividade profissional.

Em 1993, pela mão de Ruben de Carvalho, regressa e leva a cabo uma iniciativa artística na área do Fado: "As Noites de Fado da Casa do Registo", inserida na Lisboa/94, Capital Europeia da Cultura, impulsionando o Fado.

Em 1998 é convidado pela EBAHL para coordenar as Festas de Lisboa'98.

Em 2005 coordenou o projecto Todos os Fados (Visão, Abril 2005) Os Fados da Alvorada (2010) e a colecção Fados do Fado (2011) ambas da Movieplay.

Colaborador inestimável do Museu do Fado, estudioso exemplar, José Manuel Osório dedicou grande parte das últimas décadas à investigação do Fado, resgatando um conjunto de importantes temas e personalidades para a sua História.

José Manuel Osório faleceu a 11 de Agosto de 2011.

 

Fonte:

Museu do Fado – Entrevista a 11 de Julho de 2006


 

 

 

 

 

José Manuel Osório, s/d.

Raul Nery, José Manuel Osório e Joel Pina, s/d.

  • Fado da Meia-Laranja José Manuel Osório (José Luís Gordo / Joaquim Campos)