Novos Fados

A EGEAC - Museu do Fado e a Imprensa Nacional-Casa da Moeda (INCM) apresentam no dia 28 de Novembro de 2012 a colecção ensaística dedicada ao Fado. Serão lançados os quatro primeiros títulos, três dos quais de Rui Vieira Nery e uma edição fac-similada de um clássico de 1937 precedida de um estudo de sua autoria.
Para Uma História do Fado, A History of Portuguese Fado, Ídolos do Fado e Fados para a República marcam assim o início de uma coleção que inclui não só a publicação de títulos inéditos, como também de fontes há muito esgotados. 

Este lançamento conta ainda com um concerto da fadista Tânia Oleiro, e realiza-se no âmbito das celebrações do primeiro aniversário da classificação do Fado como Património Imaterial da Humanidade, pela UNESCO.
A colecção será apresentada por Salwa Castelo-Branco, e contará com a presença de Rui Vieira Nery, Miguel Honrado, Presidente do Conselho de Administração da EGEAC, e António Osório, Presidente do Conselho de Administração da INCM.

Sinopses
Para Uma História do Fado
Rui Vieira Nery
Para Uma História do Fado é uma «contribuição, a todos os títulos magistral […] de Rui Vieira Nery — um modelo de rigor, de sentido de divulgação, de capacidade de apresentar de uma forma despretensiosa uma matéria que levou anos e anos a consolidar através da recuperação de fontes escritas e documentais. Num domínio em que a bibliografia é escassa, em que os mitos e erros proliferam (uns enredados nos outros), em que a marginalidade do fado o tornou um difícil objeto científico, em que o fado aparecia como que ligado a um projeto cultural asfixiante de futebol e Fátima associado à extrema-direita antidemocrática, encontrar um texto […] tão denso e sereno é uma alegria imensa». Estas palavras de Eduardo Prado Coelho foram escritas no Público após a saída da primeira edição desta obra, em 2004. Em 2006 é-lhe atribuído o Prémio Amália de Ensaio e Divulgação. A segunda edição, que a INCM e o Museu do Fado acabam de lançar, é uma edição atualizada do texto, que se tornou referência fundamental da bibliografia sobre o Fado, e com novo design gráfico.

A History of Portuguese Fado
Rui Vieira Nery
Mais do que a tradução, é uma versão em inglês de Para Uma História do Fado, com a vantagem de ter sido efetivamente adaptada para os leitores estrangeiros e não familiarizados com o conceito do Fado, em que algumas passagens da do texto da edição portuguesa foram expandidas com informação adicional de contextualização histórica e cultural.

Ídolos do Fado
A. Victor Machado
Com um estudo introdutório de Rui Vieira Nery
Publicado em 1937 por Alberto Victor Machado, homem de letras, com vasta obra distribuída por um leque vasto de géneros literários, do conto e da novela ao romance, à poesia, às letras para fados e canções, ao teatro declamado e à opereta, mas manifestamente um profundo conhecedor do Fado, este livro surgiu no fim de um ciclo da história do Fado, que encerra uma época de mudança e «progresso», em que o Fado deixa de estar circunscrito aos ambientes populares e até marginais e vai, pouco a pouco, surgindo nos salões domésticos das classes altas e na programação das salas de espetáculos. Uma época também de intensa polémica à volta do género, em que se debatiam argumentos contra e a favor do Fado, que uns reconhecem já como a canção nacional e outros não veem mais do que o objeto de um entusiasmo febril.
A polémica progride ao longo das três primeiras décadas do século XX, com posicionamentos hostis
de vários setores intelectuais eruditos (Forjaz de Sampaio, António Arroio, Armando Leça e Luís de Freitas Branco, entre outros), em geral em formato de livro, e provocando sempre, em cada caso, respostas exaltadas dos intelectuais orgânicos da comunidade fadista (Avelino de Sousa a Artur Arriegas, Artur Inês e outros), em particular na imprensa periódica especializada que nela e para ela se produz.
Uma das muitas respostas indignadas do meio do Fado é precisamente este Ídolos do Fado, por A. Victor Machado, uma obra de natureza essencialmente descritiva, que procuram traçar um panorama exaustivo da prática do Fado à época da sua redação, elencando e biografando os protagonistas do género, em especial os cantores mais destacados, caracterizando os seus perfis artísticos e os seus repertórios, registando a evolução das suas carreiras e descrevendo os seus contextos e espaços performativos. Só por isso tratar-se-ia desde logo de uma fonte de informação preciosa para a compreensão da evolução do género no primeiro terço do século XX, mas Ídolos do Fado virá a constituir, sem qualquer dúvida, uma das fontes mais relevantes de toda a bibliografia sobre o Fado no século XX. É esta obra que hoje se apresenta aqui em edição fac-similada, acrescida de um estudo prévio de Rui Vieira Nery, que a procura contextualizar e problematizar em termos históricos, e de um índice onomástico, de modo a facilitar e otimizar a consulta do original.

Fados para a República
Autor: Rui Vieira Nery
«Ao longo do meu processo pessoal de aprendizagem sobre a História do Fado nas últimas duas décadas despertou-me sempre especial interesse a forte associação, de que cedo me apercebi, com alguma surpresa inicial, entre este género e todos os movimentos mais radicais de transformação política e social que atravessaram a sociedade portuguesa no período de aproximadamente meio século entre meados da década de 1870 e o 28 de Maio de 1926.
Esta temática estava quase oculta ou ocorria apenas esporadicamente na bibliografia de fundo sobre o Fado, desde as obras «clássicas» de Pinto de Carvalho e Alberto Pimentel aos sucessivos textos da polémica pró e antifadista oriundos de todos os quadrantes político-ideológicos, de Luís Moita a António Osório, passando por Fernando Lopes-Graça. Ela emergia, contudo, pelo contrário, como uma realidade esmagadora quando eu passava da leitura da ensaística à das fontes primárias da época, em particular pela consulta da imprensa periódica especializada do género e das múltiplas coleções de poemas para Fado publicadas pela imprensa popular desde finais do século XIX até ao advento da Censura da Ditadura Militar e do Estado Novo. Depressa pude constatar, com efeito, que a prática do Fado no período em causa tinha acompanhado de muito perto todo o processo de implantação e consolidação do movimento operário e dos ideais republicano e socialista no seio da população dos bairros populares de Lisboa, e de que a produção poética impressa do género se caracterizava mesmo, numa percentagem muito significativa, por veicular com uma insistência e uma convicção inegáveis esse discurso de rutura política e social, em todas as suas facetas.»
Da Nota Prévia

Estas obras estarão disponíveis para venda na loja do museu a partir de dia 28.